Deus, pátria, família e liberdade. Esse lema de inspiração fascista não reverbera nos tempos atuais apenas no Brasil, ou nos EUA. A Europa, berço da extrema direita, também vem sendo atingida pelo crescimento de grupos e partidos de cariz ultrarreacionário, e em Portugal não seria diferente. Mas uma notícia insólita (e revoltante), que surgiu nesta terça-feira (21), envolvendo um personagem desse campo ideológico, provocou um verdadeiro terremoto no pequeno país da franja ocidental da Península Ibérica.
Miguel Arruda, um deputado da Assembleia da República, do Chega, partido liderado por André Ventura e que se inspira abertamente em Jair Bolsonaro e no bolsonarismo, foi alvo de uma operação da Polícia de Segurança Pública (PSP) esta manhã, por ser acusado de furtar malas nos aeroportos de Lisboa e de Ponta Delgada, nos Açores, um arquipélago em meio ao Oceano Atlântico que é uma região autônoma de Portugal.
Segundo os investigadores do Núcleo Criminal da PSP, Arruda aproveitava as idas e vindas entre a capital portuguesa e a capital açoriana, por onde é eleito, para furtar das esteiras dos aeroportos Humberto Delgado (Lisboa) e João Paulo II (Ponta Delgada) bagagens de outros passageiros. O Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa, da PSP, é que conduz o inquérito contra o parlamentar.
As autoridades, segundo a imprensa portuguesa, vinham no encalço de Arruda após perceber que ele era o responsável por pegar essas malas nos aeroportos referidos, pelos quais passava constantemente no início e no fim da semana, já que ia dos Açores para Lisboa para atuar como deputado. Diante das evidências, a Justiça lusa deu autorização para que os agentes da PSP invadissem os dois imóveis residenciais do suspeito, na capital nacional e em Ponta Delgada, para que cumprissem mandados de busca e apreensão.
A agência Lusa e a CNN Portugal reportam que a prisão de Arruda não foi realizada porque para isso seria necessário suspender sua imunidade parlamentar, algo que apenas a Assembleia da República poderia fazer num caso como esse, já que tal suspensão só é possível para os crimes com penas maiores de três anos, como o furto qualificado, acusação que recai contra o deputado.
Arruda também não foi ouvido pela PSP, tampouco conduzido para uma esquadra (delegacia), visto que para tal procedimento seria necessário ao Ministério Público pedir autorização à mesa da presidência da Assembleia da República. O portal de notícias Observador informa que o MP não quis comentar se já solicitou a permissão para ouvir o deputado.