ORIENTE MÉDIO

Parlamento libanês elege novo presidente com desafio de enfrentar guerra, terrorismo e pobreza

Entre os maiores desafios para a estabilidade estão os esforços diplomáticos para a reconstrução do sul do país, invadido por Israel

Créditos: Pixabay Free
Escrito en GLOBAL el

Foi eleito em segundo turno pelo parlamento libanês, nesta quinta-feira (9), o novo Presidente da República Libanesa, o General Joseph Aoun. Com 99 votos dos 128 deputados, o desfecho se deu com os votos do braço parlamentar do Hezbollah e do Movimento Amal (xiitas), após abrirem mão de seu candidato, Suleiman Frangieh.

Militar de 61 anos, formado nos EUA, o então Comandante das Forças Armadas libanesas (desde 2017) contou com amplo apoio parlamentar após 12 tentativas feitas pelo Parlamento nos últimos 2 anos para eleger um presidente. Segundo analistas, o consenso só foi conquistado diante da nova conjuntura política na região e de uma intensa negociação envolvendo estadunidenses, sauditas, franceses e cataris.

Diante da crise econômica e política que assolou o país entre 2019 e 2021 — que causou a queda de dois primeiros-ministros, Saad Hariri (2019) e Hassan Diab (2020), e combinou COVID-19, a explosão do porto de Beirute, inflação, imigração massiva, casos de corrupção, terrorismo doméstico e externo — um discurso do então General Joseph Aoun tornou-se viral na internet, o que lhe rendeu notoriedade para além dos meios militares (2021).

Cristão maronita, como determina a Constituição do país, o presidente eleito ganhou destaque em combates contra militantes do chamado Estado Islâmico (ISIS) e da Frente Al-Nusra, ligada à Al-Qaeda. Segundo a carta magna de 1926 (revisada em 1990), o país, que é parlamentarista, deve ter um presidente cristão maronita, um primeiro-ministro muçulmano sunita e um presidente da Assembleia de Representantes (o parlamento) muçulmano xiita.

País árabe localizado no Oriente Médio, com cerca de 5 milhões de habitantes, o Líbano é a nação com maior diversidade religiosa na região. Dados variados indicam que cerca de 50% da população é muçulmana (sunitas e xiitas), 40% cristã (principalmente maronitas, seguidos de ortodoxos gregos) e 10% pertencem a minorias religiosas, com destaque para os drusos.

Com uma história complexa de submissão a grandes potências, como o Império Turco-Otomano (1516-1918) e a França (1918-1943), o Líbano tem sido palco de conflitos regionais constantes. Com uma extensa costa mediterrânea e fronteiras com Israel ao sul e com a Síria ao leste e ao norte, sua posição geopolítica é uma das mais tensas do mundo.

Com uma diáspora libanesa-brasileira que pode chegar a 10 milhões de descendentes — dentre os quais nomes de destaque na sociedade, como Amyr Klink, Antonio Houaiss, Paulo Maluf, Branco, Carlos Ghosn, Beatriz Haddad Maia, Guilherme Afif Domingos, Fagner, Zagallo, Tony Kanaan, Beto Carrero, Felipe Nasr, Michel Temer e Fernando Haddad —, o novo presidente, ao lado do primeiro-ministro Najib Mikati e do presidente do Parlamento, Naib Berri, busca um consenso para estabilizar o país.

Entre os maiores desafios para a estabilidade do Líbano, sob responsabilidade do novo presidente, estão os esforços diplomáticos para a reconstrução do sul do país, invadido em outubro de 2024 por Israel, e a iniciativa de que as Forças Armadas sejam consideradas a única força legítima detentora de armas no país. Esse fato contradiz não apenas a ocupação israelense, mas também a milícia do Hezbollah, hoje enfraquecida.

Até o início da Guerra Civil (1975-1990), o Líbano era o centro financeiro mais importante do Oriente Médio. Atualmente, segundo estimativas, mais de 70% da população libanesa está em situação de pobreza, agravada por uma onda massiva de imigração e deslocamentos causados pela invasão israelense no sul do país, pelo conflito palestino-israelense e pela guerra civil síria, que já dura mais de 10 anos.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar