Fazia um vento gelado às 7h da manhã, mas o tempo iria melhorar ao longo do dia na cidade de Bacau, na Romênia. O ano era 1991. Foi então que um homem chamado Vasile Gorgos, com 63 anos, levantou-se, barbeou-se, vestiu uma calça azul-escuro e uma camisa quadriculada. Ele tinha que sair para trabalhar, para realizar a mesma tarefa que executou por décadas.
Criador de gado, Vasile tomaria um trem na estação de Bacau e se dirigiria à cidade de Ploiesti, 20 km ao norte de Bucareste, mas distante 250 km de onde o idoso vivia. Lá ele venderia os animais. Saiu e disse à esposa apenas uma breve frase. “Volto ainda para jantar.”
Nunca mais Vasile foi visto. Simplesmente desapareceu, como fumaça. Por anos, a família desesperada o procurou. Estiveram na polícia, em outros centros urbanos romenos, nas estações de trem, em toda parte. Claro que depois de um tempo a angústia arrefeceu e era óbvio que algo teria ocorrido com o homem. Um acidente num local ermo, perda dos documentos, ou mesmo um falecimento para o qual não foi dada muita importância, já que numa época antes da internet e dos serviços digitais tudo era muito difícil, caindo no esquecimento.
Familiares e amigos ajudaram nas buscas por um bom período, prestando toda a solidariedade que situações do tipo exigem. As pistas indicando o paradeiro de Vasile até surgiam, mas invariavelmente não resultavam em nada. Quem já passou por tal evento diz que o sofrimento da dúvida é um dos mais dilacerantes.
Quando tudo parecia “petrificado” nos corações de filhos, netos, cunhados, genros e noras, algo sem explicação aconteceu. No dia 29 de agosto de 2021, no fim da manhã, um carro freou de maneira brusca a uns pares de metros à frente do portão da casa de Vasile. A porta então se abriu, e ele desceu. Não tinha mala, mochila, não carregava nada. Estava muito idoso, por óbvio.
O criador de gado, bem senil, agora com 93 anos, vestia a mesma calça azul-escuro e a mesma camisa quadriculada. No bolso dela estava um bilhete de trem envelhecido apontando o trajeto Bacau-Ploiesti, com a data do longínquo ano de 1991. Ele entrou no imóvel como se nada de anormal tivesse acontecido e foi abraçado pelos familiares aos prantos. Alguns integrantes do clã sequer o conheciam, pois tinham nascido depois de seu sumiço.
Questionado insistentemente desde o primeiro momento pelos filhos e netos sobre onde esteve e o que havia ocorrido, Vasile apenas respondia “eu estou em casa, sempre estive em casa”. A resposta indicava algum grau de perda de memória, algo totalmente compatível com a idade do criador de gado. Ele tinha a fragilidade de um idoso de 93 anos, mas não apresentava lesões ou condições de higiene de estivesse sendo maltratado.
O caso, à época do reaparecimento, fez com que a imprensa do mundo todo fosse a Bacau para registrar a história. Ele foi entrevistado por repórteres, mas era nítido que não tinha sua memória preservada, tampouco sua lucidez. Vasile morreu meses depois, ainda em 2021.
A história intrigante e que ganhou o mundo fez nascer dezenas de teorias sobre o ocorrido. Elas vão desde versões bizarras, como ter sido sequestrado por extraterrestres ou ter sido vítima de uma experiência científica secreta, até hipótese plausíveis, sobretudo por serem endossadas por psiquiatras. Vasile poderia sofrer de um grave transtorno dissociativo, ou ter ido para outra cidade e formado uma família nova, tendo sido “devolvido” quando apresentou sintomas de demência. Enfim, um universo de possibilidades.
No entanto, o fato é que depois de seu falecimento o mundo jamais saberá a verdade sobre o longo sumiço de 30 anos encerrado com sua entrada pela porta de casa vestindo a mesma roupa.