Entre segunda (9) e terça-feira (10), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados discutiu o projeto de lei que visa dar anistia a todos os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando uma tentativa de golpe de Estado foi executada.
Na quarta-feira (11), a presidente da CCJ, a bolsonarista Carol de Toni (PL-SC), anunciou que o "PL da anistia" seria retirado da pauta.
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"Declaro prejudicada a inversão de pauta em razão de um acordo no qual foram retirados também os requerimentos extra-pauta", declarou Carol de Toni, gerando frustração e revolta entre os bolsonaristas.
Mas, para além da claque bolsonarista, havia uma personagem estranha ao ambiente da CCJ: a "jornalista" e militante negacionista Vicky Richter, que é de origem alemã e já esteve no Brasil em 2021, quando se encontrou com o então presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com fontes ouvidas pela Fórum, Vicky Richter está no Brasil para realizar um documentário "sobre a situação da liberdade de expressão" no país e, na segunda e terça-feira, esteve presente na CCJ da Câmara dos Deputados para colher depoimentos. Richter contou com o apoio de assessores do PL.
Parlamentares do campo progressista como um todo foram alertados de que Vicky Richter buscava depoimentos de deputados da esquerda para dar um ar de neutralidade ao seu vídeo. No entanto, fica difícil entender de que maneira declarações de mandatos que prezam a democracia e a ciência poderiam ser utilizadas pela militante da extrema-direita alemã, comenta a fonte ouvida pela Fórum.
Quem é Vicky Richter?
Vicky Richter ganhou notoriedade entre 2020 e 2021 ao espalhar teorias da conspiração e organizar protestos contra as medidas sanitárias de combate e controle ao coronavírus, que, na época, estava no auge e a vacinação prestes a começar.
Por causa de sua postura contra as medidas do governo alemão para frear o coronavírus, Vicky Richter passou a ser vigiada e investigada por promover "hostilidade à democracia e/ou deslegitimação do Estado com riscos à segurança", informa reportagem da DW de 2021.
Vicky Richter é vinculada ao "Querdenken" (Pensamento Lateral, em português), que mantém relação com grupos neonazistas e com seguidores do conspiracionista QAnon. O grupo também é acusado pelas autoridades alemãs de questionar a legitimidade da democracia e do Estado alemão.
Em 2021, Vicky Richter entrevistou o então presidente Jair Bolsonaro, a então ministra Damares Alves e outras figuras do bolsonarismo. Na conversa com o ex-presidente, são propagadas as mesmas teses negacionistas de sempre sobre o coronavírus e as vacinas.
A reportagem da Fórum entrou em contato com Vicky Richter por meio de mensagens diretas no Instagram. Primeiramente, perguntamos se ela estava no Brasil para realizar um documentário sobre a liberdade de expressão no país. Ela respondeu rapidamente e confirmou que estava em terras brasileiras para realizar um documentário sobre liberdade de expressão no Brasil e questionou o que queríamos saber, de fato.
Perguntamos a Vicky Richter: "Qual foi a atmosfera que você encontrou no Congresso Nacional? Acredita que há problemas com a liberdade de expressão?". Vicky parou de responder às nossas perguntas.
Também entramos em contato com a liderança do PL na Câmara dos Deputados, no entanto, ninguém foi encontrado para comentar o caso. O espaço segue em aberto.