"Há 80 anos somos retratados como uma espécie de párias na História. Isso não pode continuar. Os alemães devem aprender a voltar a ser amigos de si próprios. E essa também é a missão da AfD".
A frase foi dita por Björn Höcke, líder local do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) no estado da Turíngia, em recente discurso.
Höcke já foi multado por usar em comício a frase "Tudo pela Alemanha", banida no país por ter sido o slogan dos milicianos do Destacamento Tempestade (SA), a tropa de choque que serviu a Hitler.
A AfD lidera as pesquisas nos estados da Turíngia e Saxônia, que terão eleições regionais no próximo domingo.
Com a frase acima, Höcke tentou explorar o ressentimento dos alemães com a denúncia dos crimes cometidos pelo país antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
Ouvida pelo Euronews, uma eleitora desabafou:
O que sempre me incomodou é que eles sempre dizem que 'a Alemanha começou duas guerras mundiais'. Isso não é verdade. Sim, isso é parte da História. Mas não foi só a Alemanha que cometeu crimes, certo?".
Ao ascender ao poder, Adolf Hitler explorou o profundo ressentimento dos alemães com a punição desproporcional imposta pelos aliados à Alemanha no tratado de Versalhes, depois da Primeira Guerra Mundial.
MEIN KAMPF?
As pesquisas na Turíngia mostram a AfD com quase 30% dos votos. Os cristãos democratas tem 22% e o recém-criado partido de esquerda da parlamentar Sahra Wagenknecht aparece com 18%. A esquerda tradicional, do Linke, tem 14%.
Sahra, que já foi da facção marxista-leninista de outro partido, tem tido sucesso com sua plataforma em que pede limites para a imigração e o fim da guerra na Ucrânia -- ela é vista como a força mais poderosa para barrar a AfD.
A Turíngia é parte do que no passado foi a Alemanha Oriental, onde a extrema-direita tem tido grande sucesso eleitoral. Em parte pelo sentimento dos eleitores locais de que foram "deixados para trás" na reunificação do país, em 1990.
Além de explorar o ressentimento econômico e político dos alemães, Höcke fez dos imigrantes, dos refugiados e dos judeus os bodes expiatórios de sua campanha.
Ele já disse que os alemães são "o único povo do planeta que plantou um memorial da vergonha no coração de sua capital", em referência à conhecida praça que relembra o Holocausto em Berlim.
Uma famosa entrevista do político à emissora ZDF foi precedida por um vídeo em que jornalistas perguntavam a colegas de Björn Höcke sobre frases escritas em um livro: quem seria o autor? Uma das frases dizia:
O anseio dos alemães por uma figura histórica, que mais uma vez curará as feridas do povo, superará os conflitos e colocará as coisas em ordem está profundamente enraizado em nossa alma.
Colegas da extrema-direita hesitaram se a origem da frase era a autobiografia Mein Kampf, de Adolf Hitler, ou o livro de Björn Höcke.
Depois de questionar o jornalista por contas de perguntas inconvenientes, o político exigiu que a entrevista fosse reiniciada, no que não foi atendido.