URUGUAI

A tocante entrevista de Pepe Mujica antes de ser internado: "não me encaixo no mundo de hoje"

Ex-presidente uruguaio foi internado com câncer no esôfago; conversa com o New York Times revela mais faces do sábio de Montevidéu

Lula e Mujica andando no famoso Fusca do uruguaioCréditos: Ricardo Stuckert/PR
Escrito en GLOBAL el

Na noite desta segunda-feira (26), o ex-presidente do Uruguai José "Pepe" Mujica foi internado após um mal-estar. O líder político de 89 anos luta contra um tumor no esôfago.

Mujica que foi um combatente contra a ditadura no Uruguai e ganhou notoriedade ao se tornar um dos principais nomes da Frente Ampla, grupo de esquerda que governou o país entre 2005 e 2020. Ele foi presidente entre 2010 e 2015.

Ficou famoso por morar em uma pequena casa no subúrbio, usando seu Fusca para ir ao trabalho ao invés do carro oficial. E por dar um tom humanista para a política latino-americana.

Neste fim de semana, antes de ser internado, Mujica concedeu uma incrível entrevista ao jornal estadunidense The New York Times, assinada pelo jornalista Jack Nicas.

Na conversa, Mujica, que sempre foi afeito a pensatas e a diálogos sobre a vida, conversou sobre seus questionamentos políticos e filosóficos. Aos 89, lutar contra o câncer não é fácil e ele não tem vergonha em dizer que está "um trapo".

“Você está falando com um velho esquisito. Eu não me encaixo no mundo de hoje”, disse Mujica ao jornalista do NYT.

"E o ser humano tem a capacidade de criar necessidades infinitas. O mercado nos domina e nos rouba a vida. A humanidade precisa trabalhar menos, ter mais tempo livre, ser mais pé no chão. Para que tanto lixo? Por que trocar de carro todo ano? A geladeira? A vida é uma só e acaba. É preciso lhe dar sentido. Brigar pela felicidade, e não só por dinheiro", continua o ex-presidente.

"Com todos os altos e baixos, amo a vida. E eu a estou perdendo porque está chegando a hora de partir. Qual o significado que podemos lhe dar? Em comparação aos outros animais, o homem tem a capacidade de descobrir objetivos – ou não. Se for assim, o mercado vai fazer com que fique pagando boletos para o resto da vida; mas, se encontrá-los, terá algo por que viver. Tem os que investigam, estudam, pesquisam, quem toca música, quem ama esportes, vale tudo, contanto que lhe preencha a vida", completa o presidente.