RUMO AO ESPAÇO

A história do atleta paralímpico que virou astronauta

O britânico John McFall, medalhista de bronze em Pequim 2008, se prepara para ser o primeiro astronauta com deficiência a ir para uma viagem espacial

O treinamento de McFall incluiu a experiência em ambientes com microgravidadeCréditos: ESA/Novespace
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As Paralimpíadas de Paris começarão em 28 de agosto e, desta vez, o britânico John McFall, medalhista de bronze em Pequim 2008, estará assistindo, e não competindo. Agora, ele trabalha na Agência Espacial Europeia (ESA) e se tornou, em 2022, o primeiro astronauta com deficiência do mundo.

Em 2000, McFall, então um velocista promissor, sofreu um acidente de motocicleta aos 19 anos, o que resultou na amputação de sua perna direita, pouco acima da altura do joelho.

Prosseguiu no atletismo e, em 2005, ganhou o título de campeão britânico nos 100 metros T42, categoria para atletas com amputações. Nos Jogos Paralímpicos de Pequim, veio a consagração nos 200m, quando subiu ao pódio, com um quarto lugar na prova dos 100m. 

Em 2012, virou mentor do Programa de Inspiração Paralímpica, apoiando aspirantes a atletas paralímpicos, e trabalhou como embaixador e adido do Comitê Paralímpico Internacional nos Jogos de Londres.

Além de competir, o atleta cursou Medicina e Cirurgia na Faculdade de Medicina da Universidade de Cardiff e trabalhou como auxiliar de enfermagem no Marie Curie Hospice, também em Cardiff. Formou-se em 2014 e ingressou no NHS, o "SUS" do Reino Unido, como médico júnior. Em 2018, concluiu seu treinamento cirúrgico básico, abrangendo especialidades como cirurgia geral, urologia, trauma e ortopedia.

A saga do "parastronauta"

Em novembro de 2022, John McFall foi anunciado como o primeiro "parastronauta" da Agência Espacial Europeia (ESA). A expressão foi criada para descrever astronautas com deficiências físicas. Ele foi selecionado para se integrar a um projeto pioneiro da agência que estuda as possibilidades de inclusão de pessoas com deficiência em missões espaciais, o Fly!.

"O estudo explora a viabilidade técnica de algo como ir à Estação Espacial Internacional (ISS) por seis meses. Estar no espaço por mais de 30 dias tem requisitos particulares, como lidar com os efeitos de longo prazo da microgravidade no corpo", explica ele, em entrevista à revista Nature.

Ele conta ainda que foram avaliados requisitos como a possibilidade de realizar todos os procedimentos de segurança e emergência na espaçonave. "Fizemos alguns voos parabólicos em gravidade zero para verificar se eu poderia me movimentar em microgravidade. E fizemos algumas avaliações para garantir que minha prótese ainda se encaixaria e ainda seria confortável, independentemente das mudanças no tamanho da minha amputação, por conta da mudança de fluido que existe em microgravidade."

Em breve, ele poderá ir a uma viagem espacial, e celebra o significado coletivo do feito. "A ESA está corajosamente dizendo: acreditamos que isso é possível. Acreditamos que podemos ter alguém com deficiência física desempenhando as mesmas funções de um astronauta profissional. Esta é uma maneira tremendamente poderosa de reduzir o estigma em torno da deficiência, aumentar a inclusão e ter debates saudáveis sobre quais papéis as pessoas esperariam ver pessoas com deficiência física assumindo na sociedade", pontua.