GUERRA CIVIL

Maduro denuncia contra-revolução e ataca Bolsonaro

Em dramática entrevista no Palácio Miraflores, disse que CNE não tem como divulgar boletins de urna

Jogo duro.Maduro disse ser vítima de uma contra-revolução organizada pelos Estados UnidosCréditos: Reprodução VTV
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Em um dramático encontro com jornalistas locais e estrangeiros, no Palácio Miraflores, o presidente da Venezuela Nicolás Maduro leu passagens da Bíblia, citou São Tomás de Aquino e disse que, se for forçado pelos Estados Unidos, fará uma "revolução dentro da revolução" para defender seu país.

Afirmou que, a depender dele, continuará agindo dentro da Constituição.

A fala aconteceu algum tempo depois do porta-voz da Casa Branca dizer que está "acabando a paciência" de Washington com a demora da autoridade eleitoral da Venezuela em divulgar dados completos da apuração da eleição de domingo passado.

Nela, de acordo com o Conselho Nacional Eleitoral, Maduro foi reeleito para seu terceiro mandato de seis anos, com 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González Urrutia.

Em sua fala inicial, Maduro acusou os jornalistas presentes de fazerem parte da máquina que produziu um milhão de mortos no Iraque ao vender a falsa acusação de que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, sustentada pelo governo dos Estados Unidos.

INTERNACIONAL FASCISTA

Maduro deu a lista de líderes que, na opinião dele, agora estão em busca da "jóia da coroa" em nome dos EUA: citou Javier Milei, Jair Bolsonaro, Daniel Noboa, Nayib Bukele, dirigentes do partido Vox da Espanha e os ex-presidentes da Colômbia Ivan Duque e Álvaro Uribe.

Duque e Uribe, segundo ele, tem ligações com o narcotráfico colombiano, que estaria engajado nos ataques a seu governo.

A fala foi acompanhada pela exibição de vídeos da violência nas últimas 72 horas.

O presidente da Venezuela acusou Elon Musk, o dono do X, de ser um "criminoso".

Definiu genericamente líderes dos Estados Unidos como "mentirosos e farsantes".

Em recentes negociações com Washington, o governo da Venezuela aceitou receber de volta imigrantes ilegais venezuelanos repatriados dos EUA.

Maduro afirmou que muitos dos repatriados foram capturados na onda de violência que tomou conta do país desde o anúncio do resultado das eleições. Alguns teriam tido treinamento militar no Chile e no Peru.

ATAQUE AO PALÁCIO

Maduro disse que foi desbaratada uma quadrilha que pretendia causar um apagão elétrico na Venezuela ao atacar a hidrelétrica de Guri, no estado de Bolívar.

Citou informações de Inteligência segundo as quais de 200 a 300 homens mercenários foram colocados no país para provocar o que chamou de "contra-revolução fascista".

O apagão, segundo ele, seria seguido por um ataque ao Palácio Miraflores.

O plano B, segundo o presidente da Venezuela, foi o ataque cibernético ao CNE, com o objetivo de impedir que fossem apurados os resultados da eleição na noite de domingo, promovendo o caos.

COMOÇÃO SOCIAL

Maduro disse que a emissora Bloomberg, dos Estados Unidos, jamais fez transmissões ao vivo na Venezuela, mas na noite de domingo colocou uma equipe num centro de votação de Caracas que foi atacado por uma multidão.

Na versão do presidente, o objetivo era causar comoção social através das redes.

Diante do fracasso, Maduro disse que houve um plano C: ataques a sedes do Conselho Nacional Eleitoral com o objetivo de evitar que o material utilizado no pleito fosse levado de volta para Caracas.

Acusou os Estados Unidos de tentarem repetir na Venezuela o que aconteceu no Haiti, através do uso de facções criminosas que dominam território em vários estados do país.

Afirmou que a contra-revolução foi planejada em detalhes, uma vez que, segundo ele, 3.600 lideranças chavistas em Caracas foram alvo de ameaças por parte dos "comanditos", cabos eleitorais de Maria Corina Machado e Edmundo González Urrutia.

Disse que, para dirimir as dúvidas sobre a eleição, recorreu à sala eleitoral do Supremo Tribunal de Justiça para fazer uma auditoria completa dos dados, dos 38 partidos e dos candidatos presidenciais.

Segundo ele, sua coalizão, o Grande Polo Patriótico, entregará 100% das atas eleitorais ao STJ, a mais alta corte da Venezuela.

"Quantas atas foram divulgadas nos Estados Unidos?", perguntou Maduro sobre as denúncias feitas por Donald Trump de que foi derrotado de maneira fraudulenta.

O presidente da Venezuela disse que o CNE ainda está sob ataque cibernético e não tem condições de divulgar os boletins de urna da apuração, como fez em pleitos anteriores.