Horas depois de o Hamas anunciar que aceitava a proposta de Egito e Qatar para um cessar-fogo em Gaza, provocando festa no território palestino, o gabinete de Israel votou de forma unânime para atacar Rafah, ao mesmo tempo em que anunciou que enviará uma delegação ao Cairo para negociar.
O governo dos Estados Unidos manteve hoje a posição de que a ofensiva pode agravar a crise humanitária. Na semana passada, de acordo com o diário Wall Street Journal, segurou uma carga de munição que seria enviada às Forças de Defesa de Israel (IDF) para sinalizar que apoia um cessar-fogo imediato, com soltura de reféns e ajuda humanitária desimpedida.
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O ministro de Israel para a diáspora, Amichai Chikli, publicou um quadro no X com a mensagem: "Foda-se o Hamas".
Em recente aparição pública, o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, deixou clara a posição dos partidos de extrema-direita religiosa dos quais Netanyahu depende para permanecer no poder:
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Precisamos destruir Rafah, Nusseirat [campo de refugiados] e Deir al-Balah, varrer a memória de Amalek.
As referências são ao inimigo arquétipo dos judeus, da fábula religiosa.
Smotrich e seu colega da Segurança Nacional, Itamar Ben-Gvir, são eles próprios colonos que moram em terras tomadas dos palestinos.
PROPAGANDA E AIPAC
Assim que o bombardeio a Rafah começou, a máquina de propaganda de Israel entrou em modo caça, com postagens alegando que é preciso eliminar o Hamas e matar o líder do grupo em Gaza, Yahya Sinwar.
Ao mesmo tempo, milhares de pessoas saíram às ruas de Tel Aviv e Jerusalém exigindo que o governo aceite o cessar-fogo e privilegie a soltura dos reféns.
Nos Estados Unidos, a máquina do American Israel Public Affairs Committee, o lobby pró-Israel, acionou seus apoiadores graúdos.
De um lado, políticos como o líder republicano na Câmara, Mike Johnson, que acusa Joe Biden de ser "fraco" contra os estudantes que protestam nas universidades.
De outro, 12 senadores que assinaram uma carta com ameaças ao promotor Karim Khan, do Tribunal Penal Internacional, que considera emitir mandados de prisão contra Netanyahu e outros líderes israelenses.
"Faça de Israel um alvo e faremos você de alvo", escreveram.
De acordo com o perfil AIPAC Tracker, que se dedica a monitorar o lobby de Israel nos EUA, os doze receberam U$ 6,8 milhões em doações do AIPAC para suas campanhas.
"OU ELE OU EU"
Faltando seis meses para as eleições nos Estados Unidos, as boas notícias na economia não foram suficientes para provocar uma virada do presidente Joe Biden sobre Donald Trump nas pesquisas.
De acordo com o tracking da agência Reuters, 7 de outubro de 2021 foi o último dia de pesquisa em que Biden teve maior aprovação do que reprovação (48% a 47%).
Hoje a desaprovação está em 56% a 38%.
Trump, em sua versão "pacifista", tira proveito das duas guerras sem fim financiadas pelos Estados Unidos.
O desgaste de Biden com sua própria base se aprofunda à medida em que se espalha a chamada "intifada universitária". Apesar de milhares de prisões em campus dos Estados Unidos, ela ganhou força nas últimas horas e está rapidamente se espalhando pelo mundo.
Se Netanyahu aceitar um cessar-fogo, imediatamente os holofotes se voltarão para o fracasso do governo em 7 de outubro e para possível eleições antecipadas -- tendo como pano de fundo os processos a que o primeiro-ministro responde na Justiça.
Se a guerra se estender, quem corre risco é Biden.
Netanyahu está certo de que consegue manobrar Biden usando sua arma mais poderosa, o lobby de Israel nos EUA -- capaz de definir eleições e colocar Trump de volta na Casa Branca.