No julgamento pela extradição de Julian Assange em fevereiro, a Justiça britânica enviou um pedido à Justiça dos EUA com três garantias para aprovar a extradição do australiano fundador do WikiLeaks, que denunciou ao mundo crimes de guerra do governos dos EUA:
- Que o Sr. Assange teria permissão para confiar na primeira emenda da constituição dos EUA (que protege a liberdade de expressão)
- Que o Sr. Assange não seria prejudicado no julgamento ou na sentença por causa da sua nacionalidade
- Que a pena de morte não seria imposta caso o Sr. Assange fosse condenado
Uma nota diplomática enviada pela embaixada dos EUA em Londres, com a costumeira arrogância dos Estados Unidos, afirmou que Assange deveria "procurar confiar" nas disposições da Constituição dos EUA para a liberdade de expressão, mas "uma decisão quanto à aplicabilidade da primeira emenda está exclusivamente dentro do competência dos tribunais dos EUA". Ou seja, é com a gente, não se metam.
Foi um erro incrível dos Estados Unidos. Como os britânicos perdem tudo, menos a pose, o Tribunal hoje decidiu que as garantias não foram suficientes e que a defesa de Assange poderia, portanto, recorrer ao Supremo Tribunal da Inglaterra e País de Gales.
O caso Assange segue sem solução e com ele preso na cela individual do Presídio de Segurança Máxima de Belmarsh, na Inglaterra. A imagem abaixo mostra o desgaste com os 14 anos de perseguição dos EUA a Assange lhe causaram.
O caso Assange e a perseguição dos EUA
Ao receber centenas de milhares de arquivos secretos dos Estados Unidos da soldado Chelsea Manning, Assange viu que pelo tamanho do material não teria como dar conta dele sozinho (mais ou menos como aconteceu aqui com os arquivos da Vaza Jato). Chamou jornalistas de alguns dos principais jornais do mundo para ajudá-lo com o material.
Um pool de jornais pelo mundo participou do furo, que revelou o lado oculto da guerra, com assassinato de inocentes e tortura, cometidos pelos soldados dos países que esses mesmos meios de comunicação tratavam como combatentes pela liberdade e democracia.
Os documentos estavam guardados com uma chave secreta, de que apenas Assange e esses jornalistas parceiros tinham conhecimento. Todos são unânimes em afirmar da intensa preocupação de Assange com a divulgação de nomes, que pudessem colocar a vida de pessoas inocentes em risco.
No entanto, dois jornalistas do britânico Guardian —David Leigh e Luke Harding— revelaram a senha em um livro que publicaram sobre o Wikileaks (Wikileaks: Inside Julian Assange's War on Secrecy). [imagem abaixo].
Temeroso de que, por exemplo, o governo dos Estados Unidos, diante da senha, acessasse o material, trocasse a senha por outra e bloqueasse o acesso ao material inédito, Assange e o WikiLeaks decidiram liberar o acesso para todos.
Isso foi feito no dia 22 de outubro de 2010. A partir daí começou o inferno de Julian Assange, que dura até hoje.
Além das imagens de torturas, um vídeo chocou o mundo pela frieza e aparente trivialidade com que soldados dos EUA, em um helicóptero Apache, exterminam um grupo de pessoas, que eles dizem portar fuzis AK-47 (o que não é confirmado pelo vídeo), como se estivessem brincando num vídeo game. Um dos atingidos era funcionários da agência de Notícias Reuters.
Daí se entende o motivo dos EUA perseguirem Assange. É para que nenhum jornalista se atreva novamente a divulgar crimes de guerra cometidos por eles.