PROTESTOS

Nova Caledônia, do outro lado do mundo, é a nova dor de cabeça para a França

Território insular no Pacífico está em chamas após revolta. População indígena quer independência após decisão tomada em Paris que ampliou influência francesa na política local. Entenda

Militares franceses em ação contra protestos pró-independência na Nova Caledônia.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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A Ilha de Nova Caledônia, localizada do outro lado da Terra, no Oceano Pacífico, está ardendo em chamas desde o início desta semana em meio a uma revolta popular, tornando-se assim a nova dor de cabeça para o Palácio do Eliseu, sede do governo da França. Desde 1853 o território é francês, em que pese seu estatuto totalmente sui generis, que não o classifica como um “território de ultramar”, a exemplo de outras localidades mundo afora dominadas pela potência europeia, dando-lhe uma autonomia significativa em assuntos internos.

Toda a confusão começou após uma votação pautada na segunda-feira (13), e votada na terça (14), no parlamento francês, em Paris, a mais de 16 mil quilômetros do paraíso tropical de águas azuis, que atualizou as listas eleitorais da ilha, algo que não era revisto há mais de 25 anos. Por ampla maioria, os deputados fizeram uma alteração nas leis que regem Nova Caledônia permitindo que mais cidadãos franceses (etnicamente europeus) tenham autorização para votar nas eleições locais, ampliando sua fatia no eleitorado em contraponto à maior parte da população que é de origem indígena, formada pelo povo Kanak. O número total de habitantes, aproximado, é de 270 mil no território.

Insatisfeitos com o que consideram uma interferência nos assuntos da ilha, cidadãos indígenas, fomentados por um forte movimento independentista que atua há décadas na Nova Caledônia, iniciaram uma revolta, que até a noite desta quarta-feira (15) já tinha deixado três mortos, dezenas de feridos, especialmente entre policiais e militares franceses, e mais de 160 pessoas presas. Casas e veículos queimam por todo o território, obrigando o governo local a impor um restritíssimo toque de recolher, que está sendo sistematicamente violado pelos insurgentes.

O governo francês determinou também a suspensão dos serviços da rede social TikTok, que vem sendo usada para convocar novos atos violentos e organizar mais focos de motins.

Na capital, Noumea, qualquer tipo de reunião está proibido, assim como a venda de bebidas alcoólicas e o porte de armas de fogo, que tem legislação diferente neste território francês. O aeroporto local está encerrado para voos comerciais e a área turística que fica em suas cercanias amanheceu totalmente vazia nos últimos três dias.

O presidente da França, Emmanuel Macron, incumbiu seu ministro do Interior, Gerard Darmanin, de reforçar a segurança na Nova Caledônia enviando quatro esquadrões adicionais de policiais para conter os distúrbios. O chefe de Estado francês também fez um chamado ao diálogo e pediu calma, clamando às lideranças Kanak e aos integrantes do movimento pró-independência para venham a Paris discutir os assuntos em questão com o parlamento e as autoridades da França. Ele pediu também que esses atores locais condenem qualquer tipo de ato de violência nos protestos realizados na ilha.