Seis meses depois do início do conflito com o Hamas, Israel está retirando as tropas de Khan Yunis e do sul de Gaza, deixando apenas um número residual de soldados no norte do território palestino.
O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, disse que esta não foi uma exigência do presidente Joe Biden na chamada telefônica que teve com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na semana passada. Avaliou: "Trata-se de descansar e reabilitar estas tropas que estão no terreno há quatro meses".
Desesperado com a real ameaça de não se reeleger em novembro por conta da rejeição de sua base democrata, Biden fez uma série de exigências a Netanyahu.
Desde então, Israel abriu uma nova passagem para a entrada de ajuda humanitária no norte da faixa de Gaza, região em que centenas de milhares de palestinos enfrentam fome, falta de água potável e doenças.
A retirada das tropas de Gaza é uma das condições que o Hamas tem imposto nas negociações para libertar os reféns remanescentes.
Biden sugeriu a Netanyahu que fechasse um acordo, que resultaria em um cessar-fogo depois da libertação dos reféns.
O ocupante da Casa Branca também pressionou o Egito e o Catar a obterem concessões do Hamas.
Além de isolamento internacional quase completo, o governo de extrema-direita de Israel agora enfrenta uma campanha interna significativa por eleições antecipadas. A mais recente manifestação teve 100 mil pessoas nas ruas.
IRÃ E HEZBOLLAH
A aparente pausa em Gaza acontece no momento em que Israel aguarda ansiosamente a resposta do Irã ao ataque em Damasco, na Síria, no qual Tel Aviv matou sete integrantes da Força Quds, a tropa de elite da Guarda Revolucionária do Irã -- inclusive dois generais -- dentro de uma representação diplomática.
O governo de Netanyahu informou que completou os preparativos para passar da defensiva à ofensiva na guerra contra o Hezbollah e a Síria, dependendo do envolvimento de ambos na retaliação iraniana.
Israel já vem bombardeando com profundidade o território do Líbano, inclusive o vale do rio Bekaa, alegadamente contra a infraestrutura militar do grupo xiita.
O Irã vem manobrando de forma cautelosa, o que acaba refletido nas páginas do diário Teerã Times, porta-voz do governo.
Um ataque do Irã a interesses de Israel, diz uma manchete recente, não significa necessariamente uma guerra regional.
O regime persa reatou relações diplomáticas recentemente com seu grande adversário no Golfo Pérsico, a Arábia Saudita, além de ingressar na Organização de Cooperação de Xangai e nos BRICs.
Na avaliação iraniana, depois de seis meses de conflito, Israel perdeu mais estrategicamente do que ganhou em Gaza, mesmo quando alega que matou 12.000 militantes do Hamas.
Um possível acordo entre o Hamas e Israel para cessar-fogo seria um incentivo para o regime iraniano responder ao ataque de Israel de maneira muito mais simbólica do que letal.
O governo de Israel disse que a retirada de tropas de Gaza foi para prepará-las para futuras missões, como o ataque a Rafah, onde estariam as forças remanescentes do Hamas.
Além disso, o chefe do Estado Maior das Forças de Defesa de Israel, Herzi Halevi, prometeu que qualquer ação do Irã terá resposta.
Podemos agir com força contra o Irã em locais próximos e distantes. Estamos cooperando com os Estados Unidos e com parceiros estratégicos na região.
Diante deste jogo de xadrez, não está claro se o conflito em Gaza caminha para um desfecho ou é apenas uma pausa.
Do ponto-de-vista do ator mais poderoso, os Estados Unidos, Joe Biden ficará vulnerável numa campanha eleitoral em que seu adversário, Donald Trump, está posando de pacifista e tem dito que vai acabar com as guerras da Ucrânia e de Gaza, que sangram o Tesouro estadunidense.
A campanha eleitoral nos EUA começa para valer depois das convenções dos dois partidos, em julho e agosto. Biden tem pouco tempo para tornar o desastre em Gaza num ativo para se reeleger.