De LISBOA | A poucas horas do 25 de Abril, data que marca neste 2024 os 50 anos da derrubada da ditadura salazarista em Portugal, libertando o país do jugo autoritário que perdurou por 41 anos, os portugueses já saem às ruas para celebrar meio século de uma democracia moderna e cada vez mais sólida, no seio da União Europeia, em que pese os avanços da extrema direita na pequena nação ibérica nos últimos tempos.
Como parte dos atos que relembrarão o levante conduzido por capitães do Exército Português na passagem de 24 para 25 de abril de 1974, uma reconstituição da operação militar terá início ainda esta noite (24), com seis veículos blindados de época saindo do quartel da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, levando militares anônimos que naquela gloriosa e determinante noite percorreram os 85km que separam a cidade ribatejana da capital da República.
Já na manhã de quinta (25), a coluna de tanques Panhard, modelos EBR e AML, Humber MKIV e Chaimite V200 simularão a chegada ao Terreiro do Paço, na Baixa Pombalina lisboeta, assim como o cerco ao Quartel do Carmo, o ingresso no Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas (MFA), na Pontinha, e o regresso a Santarém com a vitória e o fim da ditadura. Na mesma manhã, caças F-16 da Força Aérea Portuguesa cruzarão o Terreiro do Paço, enquanto duas fragatas e dois navios-patrulha da Marinha Portuguesa ancorarão nas proximidades da margem do rio Tejo, bem à frente do público e das autoridades de Estado.
Nesta noite (24), o pontapé inicial das comemorações oficiais deu-se com o espetáculo “Uma ideia de futuro”, que apresenta um concerto com mais de 180 músicos entoando as “canções de Abril”, e ainda com o fantástico ‘videomapping’ e projeções com imagens do dia histórico nas fachadas amarelas dos edifícios que circundam o principal cartão postal de Lisboa, que no centro da área guarda uma estátua em homenagem ao Marquês de Pombal.
Gritos, felicidade e muitos cravos vermelhos, símbolo da revolução mais poética já vista no mundo, predominaram na multidão que ocupou toda a região da Baixa, desde a Avenida da Liberdade e a Praça do Rossio. Para segurança de todos, muito policiamento nas ruas deste setor altamente turístico, mas que esta noite está de volta tomado pelos cidadãos lusitanos.
O 25 de Abril é um marco que pode até não ser comemorado pela totalidade dos portugueses, mas para uma massacrante maioria, que segundo um levantamento publicado na última semana é de 86% da população, é algo que deve ser lembrado e festejado.
Para a publicitária Catarina Almeida, de 46 anos, que compareceu ao Terreiro do Paço na noite desta quarta (24), a celebração grandiosa é justificável, mas há também um aspecto que deve ser considerado: o rumo que o país vem tomando com o crescimento da extrema direita.
"Eu ainda não era nascida, mas esses 50 anos estão a ser muito, muito importantes, porque diante das eleições que tivemos e do governo que temos atualmente, dá medo pensar como as coisas eram, como têm sido e pensar onde vão parar. Há uma ameaça, sim. Sem dúvidas", disse.
Já para o jovem Simão Pacheco Passarinho, de 20 anos, que é estudante de arquitetura na Universidade Autônoma de Lisboa, a data é vital para todas as gerações, mas o retorno da direita e de franjas mais extremadas desse espectro político deve ser enfrentado pelos setores progressistas.
"Essa data dos 50 anos da revolução é muito importante para nós jovens, mas também para todos os portugueses. Nós sabemos que vivemos em ciclos e estamos a ver a direita ganhar de novo o poder, e para mim isso é algo que temos que combater. Penso que quanto mais pessoas puderem combater essa marcha que está de volta ao poder, é o correto e o adequado", comentou o rapaz.
Veja as fotos do ato comemorativo inicial do 25 de Abril em Lisboa: