A Cubana de Aviación cancelou dois vôos entre Havana e o aeroporto de Ezeiza, na Argentina, depois que empresas fornecedoras de combustível se negaram a fornecer querosene, de acordo com nota publicada pela empresa aérea.
Embora não mencione o governo de Javier Milei, a súbita suspensão do fornecimento foi tomada por temor de que as sanções impostas a Cuba pelos Estados Unidos alcancem as empresas da Argentina.
No início do ano, a Argentina já havia se antecipado a uma decisão final da Justiça e permitido que os Estados Unidos retirassem de Buenos Aires um avião de uma empresa venezuelana que havia sido arrestado a pedido de Washington.
A alegação estadunidense é de que o cargueiro venezuelano tinha sido comprado de uma empresa do Irã sob sanção dos Estados Unidos.
O avião foi levado para Miami e demolido.
REPRESÁLIA
Os EUA sancionam milhares de indivíduos, empresas, instituições e governos do mundo para impor suas diretrizes políticas e econômicas.
Em protesto, a Venezuela impediu a Aerolineas Argentinas de usar espaço aéreo venezuelano em seus vôos para a República Dominicana e os Estados Unidos, com isso aumentando o consumo de combustível.
O comunicado da empresa cubana informou:
Ante a abrupta negativa das empresas fornecedoras de combustíveis de aviação na República da Argentina de prestar serviço à Cubana de Aviación e seus vôos autorizados pela Administração Nacional de Aviação Civil Argentina, invocando as disposições das medidas de bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba, a Cubana de Aviação se viu obrigada a cancelar os voos CU360/CU361 de 23 e 24 de abril de 2024.
Se não houver alternativa, os vôos da Cubana serão extintos, mais um golpe num dos setores econômicos mais importantes de Cuba, o turismo.
O episódio acontece dias antes da Feira Internacional de Turismo de 2024 em Cuba, que este ano tem como alvo a América Latina.
Um dos objetivos do evento é aumentar o número de visitantes do México, Colômbia, Argentina, Brasil e de nações caribenhas.
A feira começa no primeiro de maio.
De acordo com a Cubana de Aviación, os turistas argentinos que se encontram em Cuba serão recolocados em vôos de outras empresas aéreas e aqueles que iriam iniciar viagem serão ressarcidos em 100%.
Outra coincidência: o anúncio foi feito quando o presidente de Cuba, Miguel Diáz-Canel, se encontra na Venezuela para o vigésimo terceiro encontro da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comercio dos Povos.
É uma aliança comercial que reúne dez países, dentre os quais a Bolívia, Venezuela, Cuba e Nicarágua.
O governo de Cuba ainda não se manifestou sobre o episódio.
CRISE E AJUDA EXTERNA
Cuba enfrenta a maior crise econômica desde o colapso da União Soviética, pela combinação da pandemia de coronavírus, queda no número de turistas e aumento das sanções dos Estados Unidos, implementadas pelo governo Trump e mantidas por Joe Biden.
Washington mira nas fontes de dólares de Cuba: convênios de assistência médica, como o cancelado pelo governo Bolsonaro no Brasil, e turismo.
A falta de energia elétrica e de alimentos básicos provocou protestos de rua.
A China vem socorrendo o país com vôos que desembarcam toneladas de arroz.
Desde que assumiu, Javier Milei tomou uma série de medidas para agradar os EUA, como anunciar a construção de um porto binacional na Patagônia, com importância estratégica para os navios que vão até a Antártida.
Ele também quer que a Argentina seja aceita como associada especial da OTAN.
Mais recentemente, Milei adotou o "morde e assopra", enviando a chanceler Diana Mondino para visitas ao Brasil e à China, os maiores parceiros comerciais de Buenos Aires.
Milei também mandou uma carta ao presidente Lula, mas o brasileiro disse em recente entrevista que ainda não teve acesso à mensagem.