AMÉRICA LATINA

Chanceler de Milei chega ao Brasil depois do apoio dele aos ataques de Elon Musk contra o STF

Diana Mondino deve se reunir com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, em Brasília, e com empresários em São Paulo

Créditos: Divulgação Itamaraty - Diana Mondino em encontro com o chanceler brasileiro Mauro Vieira em novembro de 2023, em Brasília
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A chanceler da Argentina, Diana Mondino, está de viagem marcada ao Brasil com previsão de chegada neste domingo (14). Na agenda, um encontro em Brasília com o ministro Mauro Vieira e uma ida a São Paulo para reuniões com empresários no início da semana.

Mondino, uma das principais ministras do governo de Javier Milei, faz sua primeira visita bilateral ao Brasil desde o início do mandato de Milei, em dezembro passado. O objetivo principal é discutir a relação entre Brasília e Buenos Aires e possivelmente abordar temas regionais comuns.

Antes de assumir o cargo, Mondino já se encontrou duas vezes com o chanceler Mauro Vieira. Durante a transição de governos na Argentina, escolheu o Brasil como seu primeiro destino para melhorar as relações após críticas de Milei a Lula durante a campanha eleitoral.

Em uma visita anterior, Mondino entregou uma carta de Milei a Lula, manifestando a intenção de fortalecer os laços entre os dois governos.

Agora, a reunião entre Mondino e Vieira ocorre pouco depois de as diplomacias dos dois países se encontrarem para coordenar melhor as relações bilaterais. Durante a visita, espera-se que discutam diversos temas, desde as eleições na Venezuela até a agenda do Mercosul.

Momento de tensão

A vinda de Mondino ocorre no momento em que a política externa do presidente argentino, Javier Milei, está marcada pelo distanciamento dos interesses regionais na América Latina e a preferência pelo estreitamento de laços com países como Estados Unidos e Israel.

A visita oficial da diplomata ao Brasil ocorre dois dias após a viagem de Milei aos EUA para se reunir com o bilionário conservador Elon Musk, dono da rede social X e da empresa Tesla.

Depois desse encontro, o presidente argentino de extrema direita  declarou que apoiaria Musk na disputa dele contra a sistema Judiciário brasileiro.

Na última semana, Musk passou a integrar a investigação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a atuação de milícias digitais, depois de atacar o ministro Alexandre de Moraes.

O apoio de Milei ao bilionário foi anunciado pelo porta-voz da Presidência argentina, Manuel Adorni, pela rede X. Ele não tenha especificado quais ações serão tomadas por Milei. 

"O presidente argentino ofereceu-lhe colaboração no conflito que a rede social X mantém no Brasil no âmbito do conflito judicial e político naquele país", escreveu o porta-voz.

Relações comerciais

Em 2023, o comércio bilateral entre a Argentina e o Brasil totalizou US$ 28,7 bilhões. As exportações brasileiras registraram US$ 16,7 bilhões em 2023, enquanto as importações de origem argentina acumularam US$ 11,9 bilhões. A Argentina é o terceiro principal destino de exportações brasileiras e a quarta origem de importações.

Diplomacia bate e assopra

Enquanto fez questão de visitar Israel em meio ao maior massacre promovido pelo governo de Benjamin Netanyahu contra a população palestina, o posicionamento de Milei em relação ao Brasil e a América Latina tem sido marcada pela ausência e pelos ataques, desde a campanha eleitoral.

No episódio mais recente, a Colômbia expulsou diplomatas argentinos após Milei se referir ao presidente do país, Gustavo Petro, como "assassino terrorista".

As relações entre os países foram retomadas no início do mês, após intervenção da chanceler Diana Mondino que se prontificou a fazer uma visita ao país, em data ainda não definida.

O papel de Mondino na região tem sido principalmente de apaziguar as hostilidades regionais provocadas pelo presidente argentino.

Argentina ausente

Na próxima terça-feira (16), os presidentes da América Latina e do Caribe discutirão o principal incidente diplomático na região, a invasão da embaixada mexicana em Quito pelo governo do Equador.

A Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), bloco regional composto por 33 países pode decidir sanções ao Equador por violação do espaço diplomático e do asilo político concedido pelo México ao ex-vice-presidente Jorge Glas.

A Celac, assim como a Unasul e o Mercosul, são espaços dos quais o governo argentino, sob o comando de Milei, tem se ausentado. Além da crise no Equador, as eleições presidenciais venezuelanas, o conflito pelo Essequibo entre a Venezuela e a Guiana são temas regionais que não contam com o apoio da Argentina para resolução.

Temas da pauta

A embaixada argentina em Caracas abriga pelo menos seis aliados da opositora venezuelana María Corina Machado, mas ainda não está confirmado se o regime de Nicolás Maduro permitirá que eles voem para Buenos Aires em busca de asilo.

O governo Lula (PT) criticou as dificuldades enfrentadas pela oposição para se inscrever nas eleições de 28 de julho na Venezuela, embora anteriormente tenha defendido Maduro.

Além disso, tanto Brasília quanto Buenos Aires condenaram o rompimento das relações diplomáticas entre Equador e México após a ação de Quito em prender o ex-presidente Jorge Glas, asilado na embaixada mexicana.

A relação entre o governo argentino e o colombiano, liderado por Gustavo Petro, um aliado de Lula, também pode ser discutida, apesar das tensões recentes entre os dois líderes.

Quanto ao Mercosul, o governo de Milei busca ampliar a agenda comercial do bloco e negociar um possível acordo de livre-comércio com a União Europeia.

Nos últimos meses, a Argentina indicou interesse em cooperação com o Brasil na área de segurança para combater o narcotráfico, especialmente na região de Rosário, que enfrenta crescente violência.

Além disso, discute-se a possibilidade de exportação de gás argentino extraído de Vaca Muerta para o Brasil.