Ela tornou-se a queridinha da imprensa espanhola e internacional ao vencer a eleição para comandar a Comunidade de Madri, algo semelhante ao papel exercido pelos governadores de estado no Brasil, e é integrante de um partido de direita que vive falando de combate à corrupção, além de demonizar a esquerda o tempo inteiro. Isabel Díaz Ayuso já vinha sendo colocada como a mulher que enfrentaria o presidente de governo da Espanha (primeiro-ministro) Pedro Sánchez num futuro próximo, mas agora vê sua carreira política desabar após vir à tona um escândalo de... corrupção.
A liderança renomada do PP, sigla que representa a direita tradicional espanhola e que na última eleição se juntou aos fascistas do Vox, quase conseguindo o governo do país ibérico, viu o nome de seu marido, o empresário Alberto González, envolvido num esquema de fraude fiscal cujo rombo pode chegar a quase R$ 2 milhões (mais de 350 mil euros).
De acordo a Agência Tributária da Espanha, a empresa Maxwell Cremona, de propriedade de González, teria emitido notas fiscais falsas para evitar o pagamento de impostos ao fisco. O esquema, realizado durante a pandemia, consistia em emitir as notas (no valor de mais de 2 milhões de euros) para uma outra empresa, a FCS Select Products S. L. (sediada em Barcelona e com vários negócios na China), que faria a importação de máscaras do país asiático para serem vendidas ao governo espanhol. O primeiro problema é que a referida empresa com escritório na Catalunha é do ramo de bebidas.
Para piorar, as autoridades fiscais espanholas descobriram que as notas eram meramente fictícias, funcionando apenas para cobrar uma comissão por parte da empresa do marido de Isabel da FCS Select Products S. L., uma vez que ele teria “intermediado” a venda das máscaras e de outros produtos sanitários. A empresa com sede em Barcelona fez transações no valor de 260 milhões de euros com o estado espanhol e não teria motivo para repassar uma fração disso isso à Maxwell Cremona.
O fisco diz, depois de dois anos de criteriosa apuração, que o companheiro de Isabel deve, em função da fraude, um valor de 350.951 euros apenas de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas, referentes aos anos de 2020 e 2021. Como se não bastasse a descoberta que explodiu nas manchetes dos jornais, a imprensa descobriu que González comprou recentemente um apartamento de 183 metros quadrados no nobilíssimo bairro de Chamberí, pela bagatela de 1,1 milhão de euros.
O presidente de governo da Espanha, Pedro Sánchez, pediu mais cedo, ainda nesta quarta-feira (13), que o líder máximo do PP, Alberto Núñez Feijóo, que ele exija de Isabel sua demissão do cargo de presidenta da Comunidade de Madri em virtude das denúncias.
“Exijo-lhe que peça a demissão da senhora Ayuso como Presidente da Comunidade de Madrid, e que seja corajoso”, disse o chefe de governo espanhol para seu arquirrival.
Isabel negou qualquer irregularidade por parte de seu marido, a quem se referiu como “uma pessoa que está sendo assassinada por todo o poder do Estado”, afirmando que é o fisco espanhol que deve a ele mais de 600 mil euros.
Como não poderia deixar de ser, algo bastante comum entre os políticos conservadores fui usado pela presidenta da Comunidade de Madri: a cortina de fumaça com assuntos ideológicos. “O presidente do governo, que amanhã vai aprovar a lei mais corrupta da democracia, a lei que dá anistia a criminosos e suspeitos de terrorismo, pediu a minha demissão, imagino que para tentar encobrir este escândalo”, disse, fazendo referência a uma pauta que pretende anistiar alguns separatistas catalães que se envolveram numa fracassada tentativa de secessão há alguns anos, um assunto sem qualquer relação com a grave e substancial denúncia de fraude contra González.