DOIS ANOS DE GUERRA

"Zelensky não tem o menor crédito para falar em vitória", afirma analista

Dois anos depois do início da guerra da Rússia na Ucrânia, historiador enxerga guerra sem futuro para Kiev

Créditos: Presidência da Ucrânia
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Neste sábado (24), se completam dois anos de invasão da Rússia ao território ucraniano. Em discurso na data de hoje, ao lado de lideranças europeias e da OTAN, o presidente do país Vladimir Zelensky afirmou que a vitória ucraniana chegará.

"Nós estamos lutando por isto durante 730 dias de nossas vidas. E nós venceremos, no melhor dia das nossas vidas. Qualquer pessoa normal deseja que a guerra termine. Mas ninguém permitirá o fim da Ucrânia", disse.

Com a recente conquista russa da cidade de Avdiivka, acreditar no discurso do comandante de Kiev tem se tornado cada vez mais difícil.

Em análise exclusiva para a Fórum, o historiador João Cláudio Platenik Pitillo afirma que o presidente ucraniano "não tem o menor crédito" para falar em vitória.

João Cláudio Platenik Pitillo é doutor em história social, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUCLEAS-UERJ) e um dos principais sovietólogos do Brasil, autor dos livros 'Aço Vermelho: os segredos da vitória soviética na Segunda Guerra' e 'O Exército Vermelho na Mira de Vargas'.

Fala de Zelensky é "pitoresca"

"As declarações do presidente Zelensky soam como pitorescas, porque desde o início do conflito o que ele mais fez foi fazer essas declarações completamente afastadas da realidade. Ele se preocupou em fazer prognósticos fantasiosos lá atrás, ao invés de trabalhar uma paz verdadeira, uma paz duradoura. A todo momento ele foi tratando a guerra com base em declarações completamente esdrúxulas. Isso não é uma postura correta de um chefe de Estado que está em guerra", afirma o professor.

Sem grandes ganhos em 2023, a tragédia humanitária se alastra. "Passados esses dois anos da guerra, a Ucrânia perdeu quase 30% do seu território, viu a crise econômica que se iniciou lá em 2014 se agravar,  tem um grande êxodo da sua população, é um Estado completamente falido e que hoje  está tutelado pelos Estados Unidos e pela OTAN. A capacidade de reação militar da Ucrânia hoje, para se fazer cumprir as promessas  do presidente Zelensky com relação a essa declaração, é nula, a Ucrânia não tem possibilidade nenhuma hoje de reverter o quadro no campo militar", completa.

Na visão de Pitillo, a promessa de reanexação de Zaporizhia, Kherson, Donetsk, Luhansk e da Crimeia é implausível também pela própria população.

"Tem um outro componente que é o componente social, porque boa parte da população dessas áreas que hoje estão ocupadas pelas forças russas não querem ser parte da Ucrânia. Ele mesmo já reconheceu isso. Isso coloca em dúvida o cumprimento dessa promessa do presidente Zelensky", continua.

"O que nós temos que notar é que, para além da atividade motivacional, essa declaração retrata a ausência de projeto", completa Pitillo.

Além disso, o reforço da mendicância ucraniana por apoio financeiro e militar dos EUA tem se tornado cada vez mais evidente. "Essa insistência por dinheiro, cada vez mais dinheiro e mais apoio ocidental, só faz  com que o conflito se prolongue. Quem está pagando o preço desse conflito é a população civil", completa.

Os EUA aprovaram mais um pacote de ajuda militar à Ucrânia. A União Europeia, mais desgastada, faz um jogo mais duro às requisições do comediante.

"Nós não vemos o presidente Zelensky ter nenhum plano para a paz, e muito menos pode  se achar crível que ele tenha forças capazes de deter os russos nos próximos dois anos. Porque hoje tanto russos quanto OTAN fazem conta para mais dois anos de conflito. O presidente Zelensky não tem hoje o menor crédito para falar em vitória", completa.