Excelente entrevista do presidente da Rússia Vladimir Putin ao jornalista de direita dos Estados Unidos Tucker Carlson, na terça-feira em Moscou.
E a entrevista foi excelente porque Carlson deixou Putin falar e o presidente russo tem muito a dizer, especialmente oferecer o famoso "outro lado", pois a guerra Rússia-Ucrânia nos é desinformada aqui pela imprensa fiel ao governo dos Estados Unidos, uma versão "do ponto de vista dos EUA", assim como o genocídio de Israel.
Putin fala livremente, dá uma aula sobre a formação da Rússia, depois União Soviética, e novamente Rússia, em quase 1600 anos de História.
Fala também sobre a Ucrânia e do porquê da guerra, na visão da Rússia.
Há algumas afirmações curiosas de Putin, que veste a pele do "patinho feio" do Ocidente, já que, segundo o presidente russo, a expectativa da Rússia era ser recebida como integrante da OTAN após o fim da União Soviética, o que não ocorreu.
Putin — Vamos falar sobre o fato de que, depois de 1991, quando a Rússia esperava ser incluída na família fraterna das "nações civilizadas", nada disso aconteceu.
Afinal, vocês nos enganaram – quando digo "vocês" não me refiro a você pessoalmente, é claro, mas aos Estados Unidos – prometeram-nos que não haveria expansão da OTAN para o leste, mas isso aconteceu cinco vezes, cinco ondas de expansão. Nós suportamos tudo, nós os persuadimos, dissemos: não, agora somos amigos, como eles dizem, burgueses, temos uma economia de mercado, não temos o poder do Partido Comunista, vamos chegar a um acordo.
Além do mais, eu também disse isso publicamente – vamos pegar o tempo de [Boris] Yeltsin agora. Houve um momento em que "um gato preto se cruzou no caminho". Antes disso, Yeltsin viajou para os Estados Unidos, lembre-se, ele discursou no Congresso e disse as maravilhosas palavras: "Deus abençoe os Estados Unidos". Ele disse tudo, o sinal era "deixe-nos entrar".
Em vez disso, quando os eventos na Iugoslávia começaram... Antes disso, Yeltsin foi elogiado e elogiado, e assim que os eventos na Iugoslávia começaram e quando ele levantou a voz pelos sérvios, e nós não pudemos deixar de levantar nossas vozes pelos sérvios, em sua defesa...
Eu entendo, houve processos complicados, eu entendo. Mas a Rússia não podia deixar de levantar a voz pelos sérvios, porque os sérvios também são uma nação especial, próxima a nós, com cultura ortodoxa e assim por diante. Bem, um povo tão sofrido por gerações. Bem, isso não importa, o que importa é que Yeltsin se manifestou a favor. O que os Estados Unidos fizeram? Violando a lei internacional, a Carta da ONU, começaram a bombardear Belgrado.
Os Estados Unidos deixaram o gênio sair da garrafa. Além disso, quando a Rússia se opôs e expressou sua indignação, o que foi dito? A Carta da ONU, o direito internacional, está obsoleto. Agora todo mundo se refere ao direito internacional, mas naquela época começaram a dizer que tudo estava ultrapassado, que precisávamos mudar tudo.
É verdade, algumas coisas precisam ser mudadas, porque o equilíbrio de poder mudou, é verdade, mas não dessa forma. Sim, a propósito, começaram imediatamente a jogar lama em Yeltsin, dizendo que ele era alcoólatra, que não entendia nada, que não fazia sentido. Ele entendia tudo, garanto a vocês.
Muito bem. Tornei-me presidente em 2000. Pensei: muito bem, a questão da Iugoslávia acabou, devemos tentar restaurar as relações, abrir essa porta que a Rússia estava tentando passar. E mais, eu disse isso publicamente, posso repetir, em uma reunião aqui no Kremlin com o Bill Clinton, que estava deixando o poder, bem aqui na sala ao lado.
Eu disse a ele, fiz uma pergunta: escute, Bill, o que você acha, se a Rússia levantasse a questão de entrar para a OTAN, você acha que isso seria possível? De repente, ele disse:
"Sabe, isso é interessante, acho que sim."
E à noite, quando nos encontramos com ele já no jantar, ele disse: sabe, conversei com os meus, com a minha equipe – não, não é possível agora. Você pode perguntar a ele, acho que ele ouvirá nossa entrevista, ele confirmará. Eu nunca diria algo assim se não fosse possível. Tudo bem, agora não é possível.
Falando sobre a relação Rússia-Ucrânia e o fim da guerra
Carlson: Você não acha que seria humilhante demais para a OTAN reconhecer agora o controle da Rússia sobre o que era território ucraniano há dois anos?
Putin: E eu já disse: eles que pensem em como fazer isso de forma digna. Há opções, mas se houver vontade.
Até agora, eles têm estado fazendo barulho, gritando: precisamos conseguir uma derrota estratégica da Rússia, uma derrota no campo de batalha. Mas agora, aparentemente, percebem que isso não é fácil de fazer, se é que é possível. Na minha opinião, isso é impossível por definição, nunca acontecerá. Parece-me que agora essa percepção também chegou àqueles que controlam o poder no Ocidente. Mas se isso for verdade e se essa percepção tiver chegado, pensem agora no que fazer em seguida. Estamos prontos para esse diálogo.
Carlson: Você está pronto para dizer, por exemplo, à OTAN: parabéns, vocês venceram, vamos manter a situação como está agora?
Putin: Você sabe, esse é um tema de negociações que ninguém quer negociar conosco ou, para ser mais preciso, eles querem, mas não sabem como. Eu sei que eles querem, eu não apenas vejo isso, mas sei que eles querem, mas não conseguem descobrir como fazê-lo. Nós pensamos nisso e o trouxemos para a situação em que nos encontramos. Não fomos nós que a provocamos, mas nossos "parceiros", nossos oponentes, que a provocaram. Bem, agora eles que pensem em como reverter a situação. Nós não estamos dizendo não.
Seria engraçado se não fosse tão triste. Essa mobilização interminável na Ucrânia, a histeria, os problemas internos, tudo isso. Mais cedo ou mais tarde, chegaremos a um acordo. E sabe de uma coisa? Pode até parecer estranho na situação atual: as relações entre os povos serão restauradas de qualquer maneira. Levará muito tempo, mas serão restabelecidas.
Vou dar alguns exemplos incomuns. No campo de batalha, há um confronto, um exemplo concreto: os soldados ucranianos estão cercados – esse é um exemplo concreto da vida, das operações de combate – nossos soldados gritam para eles:
"Não há chance, rendam-se! Saiam, vocês estarão vivos, rendam-se!"
E de repente, de lá, em russo, em um bom idioma russo, eles gritaram "Os russos não se rendem!", e todos morreram. Eles ainda se sentem russos até hoje.
Nesse sentido, o que está acontecendo é, até certo ponto, um elemento de guerra civil. E todo mundo pensa no Ocidente que a luta separou permanentemente uma parte do povo russo da outra. Não. Não. A reunião está acontecendo.
Por que as autoridades ucranianas estão desmembrando a Igreja Ortodoxa Ucraniana? Porque ela une não territórios, mas sim a alma. E ninguém conseguirá a desmembrar.
A entrevista da íntegra, com legendas em português [se preferir ler a transcrição completa da entrevista, vá ao site da Sputnik]:
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