OLHA O VACILO

Por 3 anos usou uniforme, arma e distintivo na delegacia, mas não era policial

Caso maluco ocorrido na Espanha virou notícia e mostrou como um verdadeiro ‘171’ driblou o ordenamento jurídico e as autoridades do país europeu

Sede da polícia municipal de Etxebarri, no País Basco, Espanha.Créditos: YouTube/Reprodução
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De LISBOA | O ano era 2019 e a prefeitura da cidade de Etxebarri, com 12 mil habitantes, no País Basco, na Espanha, precisou contratar policiais municipais. Nesse país europeu, cada comunidade (como se fossem os estados no Brasil) tem uma academia de polícia que forma homens e mulheres na profissão, para que depois sirvam na polícia da referida comunidade (algo como uma polícia ‘estadual’), ou sejam selecionados pelas cidades para aturarem nas policiais locais (semelhantes às guardas municipais brasileiras, mas com funções mais próximas às da PM).

Foi então que um jovem de 24 anos àquela altura, identificado agora pelas autoridades apenas pelas iniciais J. B., se candidatou para uma das vagas no processo seletivo, processo esse que não “forma” policiais, uma vez que os candidatos já devem ter a formação na academia da comunidade, o que faz com que a seleção sirva apenas para definir os agentes que serão contratados.

Na hora de entregar a documentação necessária, o rapaz levou o currículo que era exigido e nele simplesmente dizia que tinha formação na Academia de Polícia do País Basco, que fica em numa vila perto de Ávala, chamada Arkaute, que dá formação para quem vai integrar a polícia basca, chamada por eles de Ertzaintza, e para aqueles que se candidatarão às vagas nas polícias municipais. Para piorar tudo, o jovem ainda disse que já tinha atuado, depois de formado, na polícia municipal de Lejona (“Leiona”, em basco), na província de Biscaia, também no País Basco.

Inacreditavelmente, nenhuma checagem foi feita. Nem sobre sua formação na academia de polícia de Arkaute, tampouco a respeito de sua atuação na polícia municipal de Lejona. Por óbvio, como ele não era policial, não tinha passado nem por uma, nem por outra. No fim, J. B. acabou contratado pela prefeitura de Etxebarri, recebendo seu uniforme, sua pistola e seu distintivo, dando ponto todos os dias na delegacia local e patrulhando as ruas.

Só que o rapaz, um verdadeiro ‘171’, como se diz no Brasil, era falastrão. Para os amigos de trabalho, vivia contando suas supostas glórias dos tempos em que teria trabalhado na polícia municipal de Lejona. Já desconfiados de tanto “caô”, os parceiros resolveram, então, entrar em contato com a chefia da tal localidade que fica próxima a Biscaia e descobriram que J. B. jamais tinha trabalhado lá.

O passo seguinte foi consultar a academia policial de Arkaute, que forma os policiais do País Basco. A surpresa foi maior ainda: J. B. jamais havia passado pela instituição e não era sequer policial. O caso foi levado então à administração municipal, que demitiu o “policial”. O Ministério Público entrou no caso e abriu um processo contra o rapaz pelo crime de “exercer a função de policial municipal sem possuir as qualificações necessárias para o exercer a função”, e o colocou no banco dos réus.

Naturalmente, no meio político também houve muito barulho. Os vereadores de oposição quiseram saber do prefeito Iker López Comerón como teria sido possível tamanho absurdo. A resposta dele não convenceu muito: “não é possível verificar a veracidade da experiência e documentação fornecida por cada um dos contratados, porque isso significaria ter que ligar para todas as empresas ou instituições que aparecem em cada currículo para saber se há é algo falso”.

Se não bastasse, Comerón, mesmo lamentando e reprovando a atitude de J. B., ainda fez uma espécie de elogio a ele, dizendo que o impostor “realizou por três anos todo o trabalho que cabe à polícia local”, dizendo que a prefeitura de Etxebarri “não teve quaisquer problemas com o seu desempenho”.

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