Apesar da vitória do grupo terrorista Hay'at Tahrir al-Sham (HTS), a situação na Síria permanece incerta. O país, anteriormente controlado por Bashar al-Assad, segue sob domínio e influência de interesses divergentes.
O aiatolá do Irã, Sayyid Ali Hosseini Khamenei, declarou: "Os principais conspiradores e a sala de controle [do novo governo sírio] estão nos Estados Unidos e no regime sionista. Temos evidências disso que não deixam margem para dúvidas para ninguém".
Com a queda de Assad, o Irã perdeu um entreposto estratégico e um aliado crucial na logística do Eixo de Resistência, organização que combate Israel por meio de milícias xiitas no Iraque, do Hezbollah no Líbano e dos houthis no Iêmen. Sem a Síria de Assad, parte essencial desse eixo, o grupo perdeu força e capacidade operacional.
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O aiatolá destacou que o principal beneficiário da queda de Assad é Israel, que tem avançado rapidamente em território sírio. Atualmente, tropas israelenses estão a 18 quilômetros de Damasco, alegando a defesa das Colinas de Golã, região ocupada ilegalmente desde 1967.
O novo líder de facto da Síria e ex-integrante da Al-Qaeda, Abu Mohammad al-Julani, corroborou as suspeitas de Khamenei.
"A Síria não entrará em uma nova guerra com Israel. O país não está pronto para outra guerra", afirmou Julani, mesmo diante do avanço militar israelense e dos mísseis direcionados a Damasco.
Ele ainda declarou: "Nossa maior ameaça é o Hezbollah e as milícias xiitas apoiadas pelo Irã na Síria".
Essas declarações de Julani indicam dois problemas de longo prazo:
O novo regime deve colaborar com Israel no combate ao Hezbollah - aliado do governo Assad e principal defensor do povo libanês contra o expansionismo sionista.
A população xiita da Síria enfrenta um risco crescente. O antigo governo Assad, majoritariamente composto por alauítas (um ramo do xiismo), além de cristãos e druzos, poderá ser alvo de perseguição política sob o novo regime de orientação sunita e islamista radical.
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O Irã, por sua vez, deve fortalecer novos grupos de resistência contra o regime sunita.
"Os territórios tomados na Síria serão libertados pela corajosa juventude síria. Não tenham dúvidas de que isso acontecerá. Os EUA não conseguirão consolidar sua posição na Síria e serão expulsos da região pela Frente de Resistência", declarou o líder iraniano.
Além disso, a Turquia deve apoiar o HTS em sua campanha contra os curdos no norte do país e fazer avançar seu projeto de gaseoduto com o Catar. No leste, a fronteira com o Iraque promete resistência ao novo governo.
Internamente, grupos políticos diversos provavelmente não se alinharão ao regime de Julani. No sul, Israel avança para conquistar novas áreas estratégicas. Enquanto isso, EUA e Rússia mantêm tropas na região e dificilmente abrirão mão de sua influência em Damasco.
A guerra, claramente, ainda está longe de um desfecho.