Pela primeira vez, a Organização Internacional de Polícia Criminal, mundialmente conhecida como Interpol, será liderada por um brasileiro. Valdecy Urquiza, delegado da Polícia Federal (PF), foi eleito em junho deste ano para o cargo de secretário-geral da organização pelo Comitê Executivo, e sua nomeação foi confirmada nesta segunda-feira (4) pela Assembleia Geral.
Urquiza sucederá o alemão Jürgen Stock e estará à frente da Interpol até 2030. Além de ser o primeiro brasileiro a ocupar essa posição, ele também é o primeiro secretário-geral da Interpol originário de um país do Sul Global.
"Juntos, podemos construir uma Interpol que sirva como um farol de esperança e segurança, lado a lado com todas as forças policiais, em todos os países, para criar um mundo mais seguro para todos", disse Urquiza logo após ser nomeado para o cargo máximo da instituição.
A Polícia Federal brasileira celebrou a nomeação de Valdecy Urquiza como secretário-geral da Interpol em suas redes sociais, destacando a importância da conquista.
"Delegado da PF Valdecy Urquiza é nomeado Secretário-Geral da Interpol. É a primeira vez que um brasileiro e representante de um país do sul global assume liderança da maior organização policial do mundo. A exitosa campanha pela eleição do brasileiro Valdecy Urquiza a Secretário-Geral da INTERPOL foi fruto de estreita coordenação entre a Polícia Federal, o Ministério das Relações Exteriores e o Ministério da Justiça e Segurança Pública", diz o comunicado.
Quem é Valdecy Urquiza
Valdecy Urquiza é o delegado da Polícia Federal que foi eleito como o novo secretário-geral da Interpol, com mandato entre 2025 e 2030. Ele recebeu 8 votos do Comitê Executivo.
Urquiza será o primeiro brasileiro a comandar a Interpol e encerrará um século de comandantes oriundos da Europa e dos EUA. A entidade foi fundada em 1923 em Viena, na Áustria.
O fato de a entidade nunca ter tido um secretário-geral oriundo de um país em desenvolvimento foi a principal argumentação de Urquiza na entrevista em que defendeu sua candidatura em fevereiro. Ele apontou para a importância da modernização pautada pela diversidade na organização, sobretudo num mundo que, segundo ele, escala para uma situação de polarização.
Na sua opinião, trazer os países tidos como periféricos para o comando da Interpol dará mais credibilidade à instituição e legitimidade ao seu trabalho.
“A organização atua em atividades no combate a ameaças de todo o globo, então precisamos agregar a expertise, prioridades e forma de combate às particularidades de cada polícia das diferentes regiões do planeta”, disse Urquiza à Reuters.
Entre as mudanças que pretende realizar na Interpol, Urquiza quer aumentar a participação feminina. Atualmente, as mulheres são 43% dos representantes da organização mas não atingem nem 10% dos postos de comando.
Valdecy Urquiza nasceu em São Luís do Maranhão, tem 43 anos e é formado em Direito pela Universidade de Fortaleza (Unifor), no Ceará. Tem uma vida acadêmica bastante ativa, com MBA em Administração Pública pelo IBMEC, pós-graduação em Direito Ambiental pela PUC-SP, cursos de Justiça Criminal na Universidade de Virgínia (EUA) e de Telecomunicações e Tecnologia da Informação na Agência Japonesa de Cooperação Internacional (Jica), em Tóquio.
Delegado da PF desde 2007, sua principal área de atuação é a cooperação internacional, por isso foi parar na Interpol. Entre 2007 e 2009 foi chefe da Delegacia de Patrimônio Histórico e Meio Ambiente da Superintendência da PF no Maranhão.
O governo brasileiro comentou a indicação por meio de nota assinada em conjunto por Andrei Passos Rodrigues, o diretor-geral da PF, e o Ministério das Relações Exteriores.
“A indicação do delegado Valdecy Urquiza para o posto de secretário-geral da Interpol representa o reconhecimento, pela comunidade internacional, não apenas da excelência do trabalho da PF, como também o papel de liderança da nossa instituição no campo da cooperação policial internacional”, diz a nota.
Urquiza já tem uma trajetória dentro da Interpol. Em 2021 foi eleito vice-presidente do Comitê Executivo da organização e cumpre o mandato de 3 anos.
Antes disso, foi Diretor-Adjunto para Comunidades Vulneráveis e Diretor de Combate ao Crime Organizado da própria Secretaria-Geral da Interpol em Lyon. Nesse período, ficou marcado pela instauração de estratégia global no combate ao tráfico humano, contrabando de migrantes e exploração sexual de crianças.