Nem todos as nações têm “paciência” para lidar com os estelionatários da fé travestidos de pastores que enriquecem explorando gente humilde e desesperada, e que de quebra ainda colocam o país refém de suas pregações reacionárias e fundamentalistas. O neopentecostalismo já está presente de forma massiva em várias partes do mundo e ameaça regimes democráticos por todo canto. Mas numa pequena nação da África, diante das ambições dos mercadores de falsos milagres, duas decisões foram tomadas para acabar com a farra desses picaretas perigosos.
Em Ruanda, país localizado no centro-sul africano, com uma área um pouco menor que o estado de Alagoas e 14 milhões de habitantes, as “igrejas” evangélicas, sim, aquelas abertas em qualquer lugar e que essencialmente existem para tomar dinheiro dos fiéis em condições econômicas e sociais difíceis, já tinham levado um duro golpe. O governo do presidente Paul Kagame fechou um total de oito mil “templos” nos últimos anos, depois de um episódio ocorrido em 2018, na vila de Nyaruguru, quando um raio atingiu uma dessas “denominações” durante um “culto” e deixou 18 mortos. O chefe de Estado, aliás, não faz rodeios e já disse para quem quiser ouvir que "esses pastores espremerem dinheiro até o último centavo dos ruandeses mais pobres". Ou seja, chamou de "picaretas".
A bem da verdade, Kagame não proibiu nada no país que governa, tampouco cerceou qualquer liberdade de crença. Ele apenas normatizou, por meio de um órgão, o Conselho de Governança de Ruanda (RBG), a atividade em todo o território nacional. Instituições sem qualquer história, criadas da noite para o dia, assim como “denominações” com “pastores” sem nenhuma formação em teologia, foram simplesmente proibidas. Igrejas tradicionais, sejam católicas ou protestantes, a fé islâmica, ritos tradicionais africanos e até igrejas pentecostais filiadas a grupos reconhecidos, permaneceram. A decisão vetou mesmo apenas a balbúrdia dos vigaristas que espoliam os fiéis explicitamente.
Agora, numa segunda etapa dessa regulação, o governo de Paul Kagame irá cobrar impostos das instituições religiosas, em que pese a gritaria generalizada (como ocorre em todos os países, inclusive no Brasil) sob o argumento de que as igrejas “não têm fins lucrativos” e que apenas “fazem o bem aos cidadãos”.