ELEIÇÕES URUGUAIAS

Uruguai: esquerda, com pupilo de Mujica, disputa o 2º turno à presidência contra a direita

Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda Frente Ampla, saiu na frente de Álvaro Delgado, do governista Partido Nacional

Yamandú Orsi (à esquerda) e Álvaro Delgado (à direita).Créditos: Divulgação/Reprodução/Facebook
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No próximo mês, o Uruguai voltará às urnas para o segundo turno das eleições presidenciais. Neste domingo (27) foi realizado o primeiro turno do pleito e Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda Frente Ampla, obteve 44,7% dos votos, seguido por Álvaro Delgado, do governista Partido Nacional, com 26,9%. Andrés Ojeda, do Partido Colorado, ficou em terceiro, com 15,5%, e já declarou apoio a Delgado no segundo turno, marcado para 24 de novembro.

A apuração parcial, com 80% dos votos contados, confirmou a tendência que vinha sendo observada em pesquisas. Yamandú Orsi, considerado o "pupilo" do ex-presidente José Pepe Mujica, representa uma nova geração da Frente Ampla. Ele defende pautas como o combate à pobreza infantil, que atinge 31% das crianças no país, melhorias no sistema educacional e mais policiamento. Ex-governador de Canelones, Orsi critica o acordo de livre-comércio entre Uruguai e China, promovido pelo atual governo de Lacalle Pou fora do Mercosul, e busca fortalecer alianças regionais.

Delgado, por sua vez, é um veterinário de formação e aliado próximo do atual presidente, Luis Alberto Lacalle Pou. Ele ressaltou em seu discurso pós-eleição a importância de unir forças com Ojeda e outras legendas para formar um "projeto majoritário". 

Quem é Yamandú Orsi, o pupilo de Mujica 

Yamandú Orsi foi governador do departamento (equivalente a estado no Brasil) de Canelones de 2015 a 2024. Sua gestão foi marcada por políticas voltadas para o desenvolvimento local e o bem-estar da população, especialmente em áreas de infraestrutura e inclusão social. Orsi, que é considerado o pupilo do ex-presidente José Pepe Mujica, compartilha uma visão política de esquerda e tem forte conexão com movimentos populares.

Em 2023, se reuniu com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva na chácara de Mujica no Uruguai. 

"Uma honra poder conversar com Lula e Pepe. A sua presença e a dos seus ministros no Uruguai são um sinal de esperança para o posicionamento da região num mundo que se fecha", disse à época. 

Mujica: "Talvez seja o meu último voto"

Uma das maiores lideranças de esquerda do continente, o ex-presidente José Pepe Mujica, que está com 89 anos, participou do pleito. Cercado por câmeras e em uma cadeira de rodas, Mujica votou cedo e declarou que este pode ser seu "último voto". Recuperando-se de um tratamento de câncer, o ex-líder ainda foi ativo na campanha de Orsi, para quem fez um discurso de despedida destacando a necessidade de um governo que una o país.

Plebiscito sobre Previdência e segurança pública

Além das eleições presidenciais e legislativas, os uruguaios decidiram em plebiscito sobre reformas constitucionais polêmicas. A proposta que previa alterar o sistema de previdência social foi rejeitada. Ela propunha reduzir a idade mínima de aposentadoria para 60 anos e eliminar o modelo de poupança individual, implementado em 1996, substituindo-o pelo monopólio estatal. Apesar do apoio de setores sindicais, nem mesmo a Frente Ampla endossou plenamente a proposta, argumentando que a idade mínima pode precisar ser revisada conforme o envelhecimento da população.

Outro tema em pauta foi a proposta de ampliar o poder da polícia para realizar invasões noturnas em residências, iniciativa que visava enfrentar o aumento da criminalidade. Contudo, essa também não alcançou o apoio necessário para ser aprovada.