ORIENTE MÉDIO

Líderes mundiais reagem ao ataque de Israel ao Irã

Lideranças globais se posicionam em relação ao bombardeio ordenado por Netanyahu à nação persa. Entenda como situação pode evoluir diante das tensões entre Telaviv e Teerã

Créditos: Agência Anadolu (Fatemeh Bahrami) - Cotidiano segue em Teerã, na manhã seguinte aos ataques de Israel
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O ataque de retaliação de Israel contra o Irã, na madrugada deste sábado (26), marcou uma nova escalada entre os dois rivais históricos, embora parecesse ter sido calibrado para evitar uma guerra total.

Israel, que pela primeira vez reconheceu publicamente a realização de uma operação militar dentro do Irã, mirou instalações militares em seu ataque. No entanto, evitou locais nucleares sensíveis, contra os quais Washington havia alertado para não atacar.

O governo sionista de Benjamin Netanyahu declarou que a campanha teve como alvo locais militares e foi uma resposta a ataques vindos do "Irã e seus aliados".

Internamente, políticos importantes — tanto dentro quanto fora da coalizão de Netanyahu — lamentaram que os ataques não tenham sido agressivos o suficiente.

Itamar Ben-Gvir, ministro da segurança nacional de linha-dura de Israel, por exemplo, disse que os ataques israelenses contra o Irã deveriam servir como um "golpe inicial."

Embora a comunidade internacional tenha manifestado preocupação, o governo iraniano minimizou os danos causados pelos ataques aéreos israelenses, informando que as operações nos aeroportos do país foram retomadas pouco depois.

O Ministério das Relações Exteriores do Irã condenou os bombardeios contra o seu território e afirmou que tem “o direito e o dever de se defender contra os atos de agressão estrangeiros”.

“O Irã considera que tem o direito e o dever de se defender contra atos de agressão estrangeiros, com base no direito inerente de autodefesa consagrado no artigo 51 da Carta das Nações Unidas”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.

O porta-voz do governo iraniano, Fatemeh Mohajerani, disse que "apenas danos limitados foram causados" - com a morte confirmada de quatro soldados - e que o orgulho dos iranianos foi fortalecido pela resposta aos ataques.

Países do Oriente Médio, em rara unidade, manifestaram profunda preocupação com os ataques aéreos realizados por Israel contra Irã, Iraque e Síria na madrugada deste sábado. Potências ocidentais apelaram por moderação para conter o aumento das tensões na região.

Apoios de países como Omã, Arábia Saudita, Turquia e os Emirados Árabes Unidos, sinalizam a Teerã que a recente investida diplomática na região trouxe resultados. Essas demonstrações públicas de solidariedade não são automáticas entre o Irã e seus vizinhos árabes.

Reações internacionais

Nações Unidas

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse estar "profundamente alarmado" com a escalada de violência no Oriente Médio, acrescentando que todos os atos de escalada na região são condenáveis e devem parar.

Guterres "reitera urgentemente seu apelo a todas as partes para cessar todas as ações militares, incluindo em Gaza e no Líbano", disse seu porta-voz Stephane Dujarric em um comunicado, pedindo "máximos esforços para evitar uma guerra regional em larga escala e retornar ao caminho da diplomacia."

Estados Unidos

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden afirmou que parece que Israel atingiu apenas alvos militares em seu ataque contra o Irã e expressou esperança de que esses ataques representem "o fim".

O porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Sean Savett, instou o Irã a "cessar seus ataques contra Israel para que este ciclo de combate possa terminar sem maior escalada".

"A resposta de Israel foi um exercício de autodefesa e evitou especificamente áreas povoadas, focando apenas em alvos militares, ao contrário do ataque do Irã contra Israel, que teve como alvo a cidade mais populosa de Israel", acrescentou Savett.

Enfatizando que os EUA não participaram da operação, Savett disse: "Nosso objetivo é acelerar a diplomacia e reduzir as tensões na região do Oriente Médio".

O porta-voz do Pentágono, Patrick Ryder, publicou na plataforma social X que o secretário de Defesa, Lloyd Austin, conversou com seu homólogo israelense, Yoav Gallant, e "reafirmou o compromisso inabalável dos EUA com a segurança de Israel e seu direito à autodefesa".

Reino Unido

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, disse que o “Irã não deve responder” aos bombardeios israelenses.

“Está claro que Israel tem o direito de se defender contra a agressão iraniana e é igualmente claro que devemos evitar uma nova escalada regional, e peço a todas as partes que exerçam moderação”, disse.

União Europeia

A União Europeia fez um apelo a todas as partes para que demonstrem “moderação máxima”, para evitar uma “escalada incontrolável” no Oriente Médio.

“O perigoso ciclo de ataques e represálias pode provocar uma nova extensão do conflito regional”, afirmou o bloco de 27 países em um comunicado.

França

A França fez um apelo para que as partes “se abstenham de qualquer escalada ou ação que possa agravar o contexto de extrema tensão que prevalece na região”, segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Alemanha

O chefe de Governo da Alemanha, Olaf Scholz, alertou o Irã contra uma “escalada”.

“Minha mensagem ao Irã é clara: não deve permitir que a escalada continue. Deve parar agora. Só então se abrirá a possibilidade de uma evolução pacífica no Oriente Médio”, escreveu na rede social X.

Espanha

O governo espanhol pediu “contenção às partes” e reiterou seu “chamamento a interromper a escalada e deter o aumento da violência” no Oriente Médio, segundo um comunicado do Ministério de Relações Exteriores.

Rússia

A Rússia expressou preocupação com uma “escalada explosiva” das hostilidades entre Israel e Irã.

“Estamos profundamente preocupados com a escalada explosiva em curso entre Israel e a República Islâmica […] Apelamos a todas as partes envolvidas que atuem com moderação”, declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova.

Brasil

O governo brasileiro afirmou que acompanha com preocupação o ataque israelense contra o Irã. Em nota divulgada neste sábado 26, o Ministério das Relações Exteriores condenou a escalada do conflito e renovou seu apelo a todas as partes envolvidas para que exerçam máxima contenção.

Venezuela

O Ministério das Relações Exteriores afirmou que a Venezuela “rejeita e condena os ataques cometidos pelo regime sionista de Netanyahu” contra Irã e Síria, “um novo ato de agressão injustificável, violação  à soberania destes países e uma ameaça à paz e segurança regionais”.

Turquia

A Turquia condenou os bombardeios israelenses e pediu à comunidade internacional que adote medidas imediatas para fazer com que a lei seja cumprida e deter o governo  Netanyahu.

"Israel, que está cometendo genocídio em Gaza, se preparando para anexar a Cisjordânia e matando civis todos os dias no Líbano, agora trouxe nossa região à beira de uma guerra mais ampla com este ataque", disse o Ministério das Relações Exteriores.

"Agora está claro que pôr fim ao terror israelense na região se tornou uma tarefa histórica para garantir a segurança e a paz internacional", acrescentou o comunicado, que chamou a comunidade internacional a "tomar medidas imediatas para impor a lei e parar o governo de [Benjamin] Netanyahu". "Não queremos mais guerra, violência ou ilegalidade em nossa região", concluiu o ministério.

Arábia Saudita

Riad condenou os ataques israelenses contra o Irã e fez um alerta contra uma ampliação do conflito na região, sem citar Israel.

“O Reino da Arábia Saudita expressa a sua condenação e denúncia dos ataques militares à República Islâmica do Irã, o que constitui uma violação da sua soberania e uma violação das leis e normas internacionais", afirmou o Ministério das Relações Exteriores em comunicado na rede social X.

No comunicado, a Arábia Saudita reiterou sua posição contrária à escalada contínua na região e à expansão do conflito, que coloca em risco a segurança e estabilidade dos países e povos do Oriente Médio.

Emirados Árabes Unidos

Abu Dhabi condenou os bombardeios contra Irã por meio de um comunicado do Ministério das Relações Exteriores na rede social X, também sem citar Israel.

O comunicado dos Emirados Árabes Unidos expressou a sua profunda preocupação com a escalada contínua e as suas repercussões na segurança e estabilidade na região.

"Os EAU sublinham a necessidade de resolver litígios através de meios diplomáticos, longe da linguagem de confronto e escalada", diz o comunicado.

Catar

O primeiro-ministro e chanceler do Catar, Sheikh Mohammed bin Abdulrahman bin Jassim Al-Thani, conversou por telefone com o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, neste sábado.

Na conversa, segundo comunicado divulgado pela chancelaria catarense na rede social X, Al-Thani citou a origem do ataque como israelense. Denunciou uma “violação flagrante da soberania do Irã” e pediu a “todas as partes envolvidas que demonstrem moderação e resolvam suas divergências por meio do diálogo e de meios pacíficos”.

Paquistão

O Paquistão condenou os ataques de Israel contra a República Islâmica do Irã. Em comunicado, o governo paquistanês classificou os ataques como uma grave violação da Carta da ONU e do direito internacional, além de um perigo para a estabilidade regional.

Islamabad responsabilizou Israel pela escalada do conflito no Oriente Médio e pediu ao Conselho de Segurança da ONU que tome medidas imediatas para conter o que chamou de "comportamento criminoso" de Israel. A comunidade internacional também foi instada a agir para restaurar a paz e segurança na região.

"Israel carrega a total responsabilidade pelo atual ciclo de escalada e expansão do conflito na região", reagiu a diplomacia paquistanesa.

O país, que tem fronteira com o Irã e é um importante aliado regional dos Estados Unidos, não mantém laços diplomáticos formais com Israel. Desde 1948, o Paquistão tem se recusado a reconhecer o Estado israelense devido ao apoio à causa palestina.

A política externa do Paquistão, alinhada com muitos países de maioria muçulmana, tem sido de apoio à criação de um Estado palestino independente e oposição às políticas israelenses nos territórios ocupados.

Malásia

O Ministério das Relações Exteriores classificou os ataques israelenses como uma "clara violação do direito internacional" que "prejudica gravemente a segurança regional". Também afirmou que "a Malásia pede a cessação imediata das hostilidades e o fim do ciclo de violência".

Iraque

Um comunicado do gabinete do primeiro-ministro Mohammed Shia' Al Sudani afirmou que o Iraque "reitera sua posição firme de apelo por um cessar-fogo em Gaza e no Líbano, e por esforços regionais e internacionais abrangentes para apoiar a estabilidade na região".

"A entidade sionista ocupante continua com suas políticas agressivas e ampliando o conflito na região através de ataques flagrantes que realiza com impunidade", inclusive contra alvos iranianos, disse o porta-voz do governo, Basim Alawadi, em um comunicado que denunciou o "silêncio da comunidade internacional" sobre as ações de Israel.

O porta-voz acusou Israel de continuar “expandindo o conflito na região com ataques realizados impunemente”.

Síria

A Síria condenou a “agressão israelense” contra o território iraniano e afirmou que apoia “o direito legítimo de defesa do Irã”.

O Ministério das Relações Exteriores expressou “solidariedade” ao Irã e afirmo que apoia “o direito legítimo do Irã de se defender e proteger seu território e a vida de seus habitantes”.

Egito

O Ministério das Relações Exteriores afirmou que "condena todas as ações que ameaçam a segurança e a estabilidade da região".

Em um comunicado, o governo egípcio afirmou: "O Egito destaca sua posição de que um cessar-fogo na Faixa de Gaza deve ser alcançado rapidamente dentro do contexto de um acordo que inclua a libertação de reféns, uma vez que essa é a única maneira de reduzir a escalada".

Jordânia

O Ministério das Relações Exteriores e dos Expatriados afirmou que a comunidade internacional deve "assumir suas responsabilidades e tomar medidas imediatas para parar a agressão israelense em Gaza, na Cisjordânia e no Líbano como um primeiro passo para reduzir a escalada, interromper as violações de Israel ao direito internacional e às resoluções das Nações Unidas, e proteger a segurança e a estabilidade da região das consequências desastrosas dos contínuos ataques israelenses".

O exército jordaniano enfatizou que não permitiu que Israel usasse seu espaço aéreo.

Omã

Omã, que mantém relações próximas com o Irã e tem um papel de mediador entre Teerã e os países ocidentais, afirmou que o ataque israelense implica “uma escalada que alimenta o ciclo de violência e mina os esforços de desescalada”.

Kuwait

O Kuwait considera que os bombardeios refletem a “política do caos” de Israel e que o país “coloca em perigo a segurança da região”, segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Bahrein

O Bahrein, que normalizou as relações com Israel em 2020, condenou a “operação militar” contra o Irã e afirmou que está “profundamente preocupado com a contínua escalada de tensões” na região, segundo um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Afeganistão

O governo talibã do Afeganistão afirmou que os bombardeios israelenses contra alvos militares no Irã devem agravar a violência na região.

Os ataques são “uma tentativa de agravar a violência na região, o que complica e intensifica ainda mais a situação desfavorável” da região, afirma um comunicado do Ministério das Relações Exteriores.

Hezbollah

O movimento islamista libanês, apoiado pelo Irã, classificou o ataque de “escalada perigosa” em todo o Oriente Médio e acrescentou que os Estados Unidos “têm toda a responsabilidade pelos massacres, as tragédias e a dor” causadas por seu aliado Israel.

Hamas

O grupo palestino afirmou que condena "a agressão sionista" contra o Irã. "Consideramos isso uma flagrante violação da soberania iraniana e uma escalada que visa a segurança da região".

Escalada das tensões

A recente ofensiva de Israel contra alvos no Irã neste sábado marca a segunda resposta do país às ações iranianas, após disparos contra bases israelenses em 1º de outubro. O primeiro ataque do Irã ocorreu em abril, logo após Tel Aviv iniciar sua incursão no Líbano, sob a justificativa de combater o Hezbollah.

A escalada no conflito ocorre após um ano de intensos bombardeios israelenses na Faixa de Gaza, resultando em 42.847 mortos e mais de 100 mil feridos, além de dois milhões de desabrigados que permanecem sob cerco militar.

Entre as vítimas fatais, 16.700 eram crianças, destacando a gravidade da crise humanitária. As ações de Israel ocorrem em desacato a resoluções de cessar-fogo do Conselho de Segurança da ONU e a ordens cautelares do Tribunal Internacional de Justiça (TIJ), que desde janeiro julga Tel Aviv por genocídio.

No final de setembro, Israel intensificou seus ataques ao Líbano, com ações atribuídas ao Mossad que destruíram equipamentos de comunicação nas ruas do país, elevando ainda mais as tensões na região.

Nos últimos doze meses, Israel tem lançado ataques contra áreas de influência do Irã, como parte de uma estratégia para "dissuadir" o apoio iraniano à causa palestina. A ofensiva inclui ações na Cisjordânia, em Gaza, e contra o Hezbollah no Líbano, os houthis no Iêmen, além de operações na Síria e no Iraque.

Apesar da relevância dos ataques israelenses, eles foram planejados para evitar uma guerra total. No entanto, a possibilidade de retaliação por parte do Irã e de seus aliados regionais, como o Hezbollah no Líbano, permanece, o que poderia agravar ainda mais a situação. A expectativa é de que os próximos dias sejam decisivos para determinar se o conflito se intensifica ou se as partes envolvidas optarão por uma desescalada diplomática.

Com as ameaças contínuas de líderes israelenses e a retórica cada vez mais inflamatória contra instituições internacionais, a crise em Gaza levantou temores globais de um conflito em escala mais ampla, com comparações sendo feitas ao período que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.

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