O ÓDIO BOMBA

Crianças de Israel mandam recados numa versão macabra de 'O meio é a mensagem'

Mensagens são a perfeita tradução da máxima de McLuhan

Créditos: Montagem sobre imagem de Gotfryd, Bernard, photographer, Public domain, via Wikimedia Commons
Escrito en GLOBAL el

O educador e teórico da Comunicação canadense Marshall McLuhan jamais conseguiria explicar de modo tão perfeito o significado de sua icônica e revolucionária afirmação de que "O Meio é a mensagem" quanto a imagem dessas crianças israelenses escrevendo recados em bombas, que seriam enviadas para eliminar outras crianças, no Líbano —na época dessa foto, que é de 2016 —ou em Gaza, como agora.

A imagem mostra meninas israelenses escrevendo mensagens em cartuchos prontos a serem disparados por uma unidade móvel de artilharia contra o Líbano, a 17 de julho de 2006 (Pedro Ugarte / AFP/Newscom).

Todas estas crianças são vítimas da cultura militarista e colonialista de Israel. Como Nurit Peled-Elhanan documenta no seu livro "Ideologia e Propaganda na Educação: a Palestina nos Livros Didáticos Israelenses", as crianças das escolas israelenses são doutrinadas com estereótipos negativos e com um ódio absoluto aos palestinos e aos árabes desde tenra idade.

Além disso, de acordo com Peled-Elhanan, os manuais escolares israelenses "apresentam a cultura judaico-israelita como superior à árabe-palestina, os conceitos judaico-israelenses de progresso como superiores ao modo de vida árabe-palestino e o comportamento judaico-israelense como estando de acordo com os valores universais". 

 

Ódio se aprende na escola

 

As imagens são de uma escola em Israel. Inspetores visitam uma sala de aula para ver como está indo a formação dos alunos.

A matéria não é matemática, nem literatura ou história. É ódio, preconceito, racismo.

 

— O que vem à cabeça de vocês quando ouvem a palavra Jerusalém? [Nota: Israel e Palestina consideram Jerusalém sua capital]

— A terra santa, a casa santa, o templo...

— Quem pensa que o templo será construído em poucos anos em Jerusalém?

Crianças levantam as mãos.

— Qual será o lugar onde ele será construído?

— Na mesquita de Al-Aqsar.

— E o que vai acontecer com a mesquita?

— Vai ser explodida, destruída.

— Quem de vocês encontrou um menino árabe no último ano?

Crianças levantam as mãos.

— Onde encontrou o menino árabe?

— Perto do templo.

— Você falou com ele?

— Não, ele me empurrou e se foi.

— O que acontece quando você encontra um menino árabe? O que sente? 

— Raiva. Tenho vontade de matá-lo.

— O que acontece quando encontra um menino não judeu nem religioso?

— Sentimos pena dele porque é secular.

— Por que sente pena por ele? Por que não nasceu religioso? O que ele perdeu?

— Não estão no caminho correto.

— Como veem Jerusalém nos próximos dez anos?

— Todo mundo será judeu e religioso. Haverá árabes, mas eles serão nossos escravos. Porque o Messias chegará, eu sei.

— O que você disse?

— Haverá uma guerra massiva e todos os árabes morrerão. Os que sobreviverem serão feitos escravos.

— Muito bem, têm todas as informações. Obrigado, meninos. Mantenham-se educados aqui.

 

Siga o perfil da Revista Fórum e do escritor Antonio Mello no Bluesky