O filho mais velho do repórter-símbolo da guerra em Gaza, Wael Dahdouh, chefe do escritório local da rede árabe Jazeera, foi morto em um ataque aéreo de Israel.
Hamza, de 27 anos, estava com um colega em um automóvel quando aconteceu o ataque.
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O fotojornalista e seu acompanhante, Mustafa Thuraya, que também foi morto, estavam fazendo registros da destruição causada pelos bombardeios de Israel entre Khan Yunis e Rafah, no sul do território palestino.
É o território para o qual, no início da guerra que já dura 93 dias, Israel forçou o deslocamento de centenas de milhares de moradores de Gaza, alegando que eles correriam risco de vida se permanecessem no norte da faixa.
O fato de que a grande maioria dos moradores de Gaza está longe de casa agrava a profunda crise humanitária em que o território mergulhou desde o início dos bombardeios de Israel em resposta ao ataque do Hamas em 7 de outubro.
Com a morte de Hamza e seu colega, que já trabalhou para uma agência internacional, sobe para 109 o número de trabalhadores da mídia assassinados por Israel -- segundo a contagem do Escritório de Mídia de Gaza.
São fortes as suspeitas de que Israel desconsidera as placas assinalando que jornalistas estão em serviço, marcações de PRESS colocadas em veículos.
Além disso, os profissionais usam capacetes e coletes azuis, identificáveis à distância.
Em ao menos um caso, na fronteira do Líbano, a organização Repórteres Sem Fronteira acusou Israel de atacar jornalistas deliberadamente, uma vez que um helicóptero fez duas passagens sobre um grupo de repórteres antes de que eles se tornassem alvo.
TRAGÉDIA FAMILIAR
Em nota publicada antes da morte de Hamza, os RSF denunciaram:
O jornalismo está em processo de erradicação na Faixa de Gaza como resultado da recusa de Israel em atender aos apelos para proteger pessoal da comunicação social, afirma Repórteres Sem Fronteiras (RSF). A situação é terrível para os jornalistas palestinos presos no enclave, onde dez foram mortos nos últimos três dias, elevando para 48 o número total de mortos desde o início da guerra
A contagem dos RSF difere daquela do Escritório de Mídia do Hamas, que inclui não apenas jornalistas, mas todos os trabalhadores de mídia mortos em serviço.
A rede Jazeera, que faz a mais extensiva cobertura dos acontecimentos em Gaza, já perdeu 14 jornalistas em ataque de Israel.
A emissora disse que vai encaminhar o caso de Hamza ao Tribunal Internacional de Justiça.
O pai de Hamza, Wael, sobreviveu com ferimentos a um ataque de Israel em dezembro passado, que matou o cinegrafista Samer Abudaqa.
Em outubro, Wael se tornou símbolo da resistência dos jornalistas ao voltar a trabalhar depois de perder a esposa, um filho, uma filha e um neto num bombardeio de Israel à casa onde eles estavam abrigados.
Pela Convenção de Genebra, os correspondentes de guerra são protegidos tanto quanto os civis de ações armadas, assim como de captura ou prisão pelas partes beligerantes.
CONTROLE SOBRE A NARRATIVA
Nos últimos três meses, Israel já fechou a tv libanesa Mayadeen, ameaçou fazer o mesmo com a Jazeera e também cogitou sancionar o diário local Haaretz, que vazou informações de uma investigação segundo a qual um número não definido de mortos atribuídos aos ataques do Hamas em 7 de outubro na verdade morreu por fogo amigo de helicópteros e tanques de Israel.
As Forças de Defesa de Israel, segundo especialistas, adotam informalmente duas doutrinas que podem causar comoção na opinião pública.
O Protocolo Hannibal autoriza soldados israelenses a matar civis se isso for necessário para evitar a captura de reféns por forças hostis.
A Doutrina Dahiya, batizada com o nome de um bairro de Beirute controlado pelo Hezbollah, sustenta que as IDF devem destruir infraestrutura civil com o objetivo de levar a população local a pressionar as lideranças combatentes inimigas.
Mais de 22 mil civis já foram mortos em Gaza, com cerca de 10 mil desaparecidos.
O controle sobre a narrativa da guerra é essencial para Tel Aviv, que conta com um poderoso aparato de propaganda e lobistas nos paises mais importantes do mundo.
O discurso adotado quase em uníssono equivale o Hamas ao Estado Islâmico e justifica a morte de civis palestinos sob ocupação alegando que são usados ou se deixam usar como escudo humano.