Muita gente foi surpreendida quando a notícia se espalhou, desde a terça-feira (4). Uma “pedra” de nove quilos retirada das vísceras de uma baleia cachalote que morreu e ficou largada numa praia das Ilhas Canárias, na Espanha, tem valor comercial aproximado de R$ 2,5 milhões. O animal encalhou na costa do arquipélago atlântico espanhol em maio, mas apenas agora os biólogos puderam levar a cabo a difícil tarefa de retalhar a imensa carcaça para limpar e liberar o local.
Mas afinal, que “pedra” é essa que é tão valiosa e estava dentro da cachalote?
Trata-se de um material chamado de “âmbar-gris”, ou ainda “âmbar-cinza”, um composto de caráter gorduroso, sólido, que é produzido pelo organismo desses mamíferos para envolver, ou melhor, “encapsular” algo muito rígido que foi ingerido pela baleia, protegendo o aparelho digestivo dela. Quando a cachalote come lulas e polvos de grandes profundidades, esses moluscos, que não têm dentes, apresentam “bicos” que são muito duros, como se fossem feitos de plásticos, daí a necessidade das cachalotes “protegerem” suas vísceras por meio dessa substância que envolve esse material não digerível. Com o passar do tempo, a “pedra” de gordura vai aumentando de tamanho e, na maior parte das vezes, vomitada ou expelida nas fezes do gigantesco mamífero marinho.
O âmbar-gris é usado há séculos, por diferentes povos e culturas, com as mais variadas finalidades, mas a sua principal destinação atualmente, embora esteja caindo em desuso (por conta do preço e da dificuldade em obtê-lo) é na indústria de perfumes.
Quando sai do corpo da cachalote, seja porque foi expelido naturalmente pelo animal, ou porque a baleia morreu e o homem o extraiu manualmente, o âmbar-gris tem cheiro fecal, ou seja, de fezes. Depois de algum tempo exposto ao ambiente, à luz solar e mais seco, ele passa a apresentar um cheiro único, considerado uma verdadeira preciosidade, já que o grama custa aproximadamente R$ 140.
Seu odor é usado para dar “notas de fundo” nas caríssimas fragrâncias de grifes famosas, conferindo atributos olfativos únicos e exclusivos a esses produtos de luxo. No entanto, a maior parte das empresas desse setor já usa há muito tempo uma substância sintética que faz uma função semelhante, embora os perfumistas digam que jamais será idêntico ao âmbar-gris, denominada genericamente de isoprenoides.