Das BALEARES | As últimas semanas foram de total euforia para a direita tradicional espanhola, nomeadamente congregada no Partido Popular (PP). Todas as sondagens apontavam que a legenda, liderada por Alberto Núñez Feijóo, venceria as eleições conseguindo até 160 cadeiras das 350 do parlamento. A direção da sigla falava até em 176 assentos, para que com isso formasse maioria absoluta e governasse sem precisar fazer alianças com a extrema direita, representada pelo Vox, que esperava ampliar suas já expressivas 52 cadeiras. Nada disso foi o que se passou.
O PP ficou com "apenas" 136 deputados e o Vox viu sua representação desabar para 33, o que somados resultam numa bancada de 169 parlamentares, sete a menos que o necessário para formar um governo e chefiar o Executivo espanhol.
Já o PSOE, que governa o país desde 2018, e que pelas pesquisas deveria perder cadeiras, descendo de 119 para aproximadamente 110, acabou registrando um pequeno crescimemto e ficando com 122. A recém-inaugurada coalizão Sumar, também de esquerda, fez 31 cadeiras, que somadas às do partido do atual presidente de governo, Pedro Sánchez, resultam em 153 representante. Outras legendas, que representam grupos independentistas e autonômicos, obtiveram pelo menos 20 cadeiras e são partidos afeitos e chegados à esquerda (leia-se ao PSOE). Porém, apenas uma parte já anunciou ingresso na coalizão, ficando os independentistas do Junts per Catalunya até agora de fora (o que pode mudar nas próximas horas).
Na prática, o país está muito mais rachado, mas a direita contrariou todas as previsões e saiu como a grande "derrotada" do dia, mesmo tendo "ganhado". Por outro lado, o PSOE não formou maioria, tampouco uma sólida coalizão, mas é preciso dizer que a legenda nem mesmo esperava por isso.
Agora, com um levantamento que mostra um resultado que seria aproximado de 153 deputados pelo lado do PSOE e de seus aliados até o momento, contra 169 de PP e Vox juntos (excluindo aí outros partidos que oficialmente não deram apoio a nenhum dos dois blocos), a esquerda tem menos cadeiras que a direita, ainda que os conservadores não tenham conseguido a maioria necessária, além do fato de alguns assentos poderem se juntar ao PSOE a partir de amanhã.
O resultado desta eleição, realizada em meio ao tórrido verão espanhol, indica que o PSOE até pode seguir no governo, pelo menos por ora, e que precisará ceder ainda mais espaço para outros partidos de seu campo ideológico, sobretudo os que lutam por mais autonomia nas várias regiões nacionais e aos independentistas, especialmente os catalães.
Extrema direita fracassa
Por outro lado, não foi desta vez que a extrema direita, do Vox, que se coloca como "herdeira" do franquismo, comporá o governo. Aliás, no fim da noite, a campanha de Feijóo, do PP, informou que o líder conservador pedirá ao Congresso para que forme um governo, junto com o Vox, já que foi o primeiro colocado, embora não exista possibilidade disso ser aceito com os números presentes.
O anúncio de "bloqueio" também já foi feito pelo PP, o que deve ser seguido pelo Vox. A intenção dos dois partidos é obstruir uma nova formação de governo pelo PSOE, o que pode dentro de algum tempo resultar na convocação de uma nova eleição, visto o cenário tão incerto, chamado pelos espanhóis de "governo no ar". Para analistas políticos, uma nova eleição é possivelmente o caminho mais plausível a partir de agora.