A China anunciou esta semana que está cavando um buraco que passará por 10 estratos geológicos da Terra, atingindo camadas do planeta que foram formadas entre 145 e 65 milhões de anos atrás, no Período Cretáceo. A escavação atingirá mais de 11 mil metros de profundidade, empregará duas mil toneladas de equipamentos e está prevista para ser encerrada em pouco menos de um ano e meio.
De acordo com as autoridades de Pequim, o poço, que está sob a responsabilidade da estatal de petróleo chinesa, a Sinopec, pretende “ampliar os limites da profundidade na exploração geológica”, tecnologia e conhecimento que só são possíveis por meio de experimentos desse tipo.
No entanto, se tiver sucesso e for concluído, o buraco cavado pelos chineses, que pretendem através dele obter ganhos “científicos e econômicos”, não será o mais profundo já realizado. Iniciado pelos soviéticos em 1970 e encerrado definitivamente em 1989, embora as atividades ao seu redor tenham permanecido até 1992, o chamado “poço supreprofundo de Kola”, perfurado numa zona do extremo norte do que hoje é a Rússia, junto à fronteira com a Finlândia, detém até os dias atuais o recorde de profundidade para uma escavação feita pelo homem.
Com 12.262 metros, o buraco de Kola foi um dos mais audaciosos projetos de prospecção científica realizados durante o período da Guerra Fria pela União Soviética. Inicialmente projetado para atingir 15 mil metros de profundidade, para competir com o buraco cavado pelos norte-americanos em Oklahoma, que chegou a “apenas” 9.583, o “poço superprofundo de Kola” segue sendo um feito ainda a ser batido.
Quando a broca chegou aos 12 mil metros de profundidade, a expectativa do Kremlin era de que a temperatura fosse por volta de 100°C, mas na realidade ela ultrapassou 180°C, o que fez os trabalhos serem suspensos após o mecanismo perfurador entrar em colapso e ficar perdido num trecho do poço. Os 15 mil metros, então, jamais seriam atingidos, uma vez que as projeções indicavam que por lá a temperatura estaria próxima dos 300°C.
Na atualidade, o que restou do “poço supreprofundo de Kola” é uma edificação alta que se destaca em meio à área inóspita da tundra e, do lado de dentro, uma espécie de “tampinha” que fecha uma das maiores realizações científicas da história da humanidade.