TRAGÉDIA ANUNCIADA

Nova droga com sedativo animal provoca feridas purulentas e amputações nos EUA

Uso do “tranq”, como é chamada, já é epidemia na Filadélfia e deixa profissionais de saúde horrorizados. Entenda o que é o entorpecente

Dependente químico em tratamento em emergência da Filadélfia, nos EUA.Créditos: NBCNews/YouTube/Reprodução
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Uma nova e devastadora droga assusta a cidade da Filadélfia, nos EUA. Seus usuários apresentam feridas purulentas graves nas pernas e braços, que invariavelmente levam à amputação de seus membros. A substância é parte composta pelo já conhecido e mortal fentanil, mas é associada a um fortíssimo tranquilizante de uso veterinário, destinado sobretudo a animais de grande porte, como cavalos e bovinos, a xilazina. As informações estão numa reportagem publicada pelo jornal britânico Financial Times.

Conhecido como “tranq” nas ruas de bairros decadentes e sujos da maior cidade da Pensilvânia, onde perambulam os dependentes químicos, o nome vem da palavra “tranquilizer” em inglês (tranquilizante), já que a xilazina é justamente um fármaco com essa finalidade, ainda que não seja indicado para seres humanos de forma alguma. Ela é usada para diluir o fentanil e acaba dando um caráter muito mais agressivo e perigoso para a droga.

Os profissionais de saúde da Filadélfia, mesmo acostumados com a destruição e a mortandade provocadas pelo fentanil, um opioide sintético que chega a ser 50 vezes mais potente que a heroína, e que tirou a vida de quase 110 mil pessoas nos EUA no ano passado, estão horrorizados com as lesões que os usuários do “tranq” apresentam.

Os médicos dizem que é como se a carne apodrecesse de dentro para fora, principalmente nas pernas e braços, abrindo grandes úlceras cheias de pus, que se não forem tratadas com rapidez e todos os cuidados exigidos evoluem para um quadro em que a única saída é a amputação.

O Financial Times entrevistou um homem, dependente da substância, que foi identificado na reportagem como “Gilberto”. Com 44 anos e morando nas ruas, ele diz que já sentiu dores muito fortes na vida, que já levou um tiro e que também já foi espancado, mas que nada se compara às dores físicas que sente quando está numa crise de abstinência por conta do “tranq”. Ele tem feridas extensas e em condições críticas nas pernas e trema ao apontar as úlceras e mostrá-las ao repórter.

Como o combate à entrada do fentanil nos EUA vem se intensificando na fronteira do país com o México, o que naturalmente acarreta em perdas significativas para os cartéis de narcotraficantes, a xilazina, de custo muito baixo, serviu como uma “boa” forma de diluir o fentanil, diminuindo seu preço e com isso reduzindo as perdas financeiras por parte dos criminosos.

O medo agora nos EUA é que essa forma de fentanil, misturado com a xilazina, tome as principais cidades do país. O número elevado de overdoses por uso do fentanil fez com que os profissionais de saúde desenvolvessem protocolos para tratamento que às vezes são eficientes quando o paciente é levado a tempo para o hospital, uma vez que a substância é conhecida há muito tempo e tem também uso médico. O receio em relação à xilazina é que ela é desconhecida e como tem uso restrito a animais, as autoridades sanitárias não sabem que tipo de antídoto seria eficaz contra ela no caso do uso em seres humanos.