Um caso de terror assustou a comunidade de Colmenar Viejo, uma cidadezinha nos arredores de Madri, na Espanha, nos últimos dias. Oito crianças, filhas de um médico e sua esposa, foram encontradas vivendo em condições insalubres, precárias e desumanas, totalmente desnutridos e submetidos a verdadeiras sessões de tortura.
A história macabra só foi desvendada depois de muitas denúncias, que vinham de vizinhos aterrorizados com gritos noturnos e de educadores da escola da região, que não entendiam o excesso de faltas e as condições de penúria dos irmãos. Como o pai era médico, ele mesmo dava os atestados justificando motivos de saúde para as ausências. A polícia já havia visitado o local por conta desses avisos e passou também a desconfiar das desculpas dadas pelos pais das oito crianças, com idade entre 14 e 4 anos, sempre que eram abordados.
Já repletos de denúncias e munidos de um mandado judicial, os agentes da Guardia Civil foram então até a casa e lá entraram no local, em 27 de março. O cenário era de absoluto horror. O imóvel era muito espaçoso, com 250 metros quadrados, três andares, pátio, horta e muitos banheiros, mas os filhos do tal médico de 45 anos e de sua mulher, um ano mais nova, ficavam todos amontoados num sótão minúsculo e imundo, em quatro beliches, com um pequeno banheiro todo sujo de fezes para uso de todos.
As crianças eram surradas constantemente e o pai usava cintos de couro para isso. Elas também eram submetidas a violentos punições “repentinas”, como permanecer por dias no pátio aberto da casa, debaixo de chuva e sol, tortura que, segundo vizinhos, era mais constante no inverno, quando os responsáveis deixavam as crianças passarem a noite sem cobertores no congelante frio com temperaturas muitas vezes negativas.
Dentro da casa, que ficava quase na totalidade para uso dos pais, a imundice também era assustadora. Lixo por todo lado, cozinha em estado deplorável e cômodos totalmente sujos. O único ambiente minimamente limpo era uma espécie de escritório usado pelo médico. Os agentes da Guardia Civil encontraram também no lugar milhares de caixas com luvas descartáveis, remédios, gazes e outros insumos médicos do governo, o que fez as autoridades suspeitarem que o homem roubava material do local onde trabalhava.
Os vizinhos contam que a família morava na casa confortável havia 13 anos e que o casal era muito esquisito. O homem e a mulher simplesmente se negavam a fazer qualquer contato com outras pessoas e o médico só era visto no momento que saía para pegar o carro e ir trabalhar. A mãe era avistada um pouco mais, já que estava incumbida de levar os filhos à escola, embora eles mais faltassem do que frequentassem a instituição.
As autoridades madrilenhas acreditam que a mulher também era oprimida e mantida sob controle do marido. Eles perderam imediatamente a guarda dos filhos, que foram levados para um abrigo público após um promotor formalizar uma acusação criminal de maus-tratos contra ambos, embora o homem ainda tenha sido acusado de violência sexista. Eles chegaram a ficar presos, mas o juiz de instrução do caso determinou a soltura dos dois e a aplicação de medidas cautelares.