O suicídio de um adolescente de 15 anos, filho de uma deputada de oposição na Polônia, país europeu governado pela extrema direita, provocou uma onda de críticas e revolta contra o partido Lei e Justiça (Pis), atualmente no poder com o presidente radical Andrzej Duda. Uma reportagem veiculada em dezembro do ano passado na rádio estatal polonesa Szczecin expôs um caso de abuso sexual contra o referido jovem, que, ainda que não tenha sido citado nominalmente na matéria, pôde ser identificado por conta do excesso de detalhes apresentados.
Na noite de sexta-feira (3), Magdalena Filiks, deputada do partido Plataforma Cívica (PO), o maior de oposição da Polônia, anunciou nas redes sociais que o seu filho, Mikolaj, tinha morrido em 17 de fevereiro, dia do próprio aniversário, após suicidar-se, em decorrência da exposição que sofreu em sua vida íntima.
Depois de falar sobre os detalhes que acontecerão no funeral do menino, marcado para os próximos dias, ela acrescentou que “em meu nome e de minhas filhas, Aleksandra e Maja, peço à mídia que respeite a privacidade de minha família e não compareça ao cemitério”.
O homem que seria o autor do estupro, ocorrido em 2020, identificado como “Krzysztof F.”, é também um político do partido Plataforma Cívica, o mesmo de Filiks, e é um ativista dos direitos LGBTQIA+. Para grande parte da opinião pública polonesa, a exposição do caso foi uma mera ação política de ataque a um opositor feita pelo regime de Duda, com intenção de demonizar toda a classe política não alinhada aos delírios reacionários da extrema direita.
De fato, de “Krzysztof F” já registrava um histórico de abusos contra garotos e também por oferecer entorpecente a menores de idade, o que inclusive culminou com uma condenação no ano de 2021.
Para quem imaginava que tal absurdo com resultado trágico seria o suficiente para que os extremistas recuassem, as reações da extrema direita no parlamento e na sociedade civil apenas reverberaram a reportagem, procurando frisar “a importância de se combater os pedófilos”, uma espécie de “moinho de vento” desse segmento político extremista em vários países do mundo, que coloca o tema em absolutamente todas as discussões e acusa os opositores de cometerem tal delito.
Horas depois, o jornalista Radoslaw Gruca, muito conhecido no país, foi ao Twitter e disse que esperava que a tragédia ocorrida com Mikolaj levasse a o repórter Tomasz Duklanowski, da rádio Szczecin, autor da matéria que revelou que o filho da deputada era a vítima do abuso, “desaparecesse da vida pública para sempre”.