LUTO NA CIÊNCIA

Morre Raphael Mechoulam, sobrevivente do holocausto e pai da maconha medicinal

Químico búlgaro-israelense, morto aos 92 anos, foi responsável pela identificação das propriedades terapêuticas da cannabis

Raphael Mechoulam.Morre Raphael Mechoulam, sobrevivente do holocausto e pai da maconha medicinalCréditos: Reprodução /beyondthc
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Morreu nesta sexta-feira (10), aos 92 anos, o cientista búlgaro-israelense Raphael Mechoulam, conhecido mundialmente como o “pai da maconha medicinal. O falecimento foi confirmado pela Universidade Hebraica de Jerusalém e um funeral será realizado no próximo domingo (12). A causa da morte, no entanto, não foi divulgada.

O químico foi o primeiro cientista a isolar o Tetrahidrocanabidinol (THC), composto que causa a chamada “brisa” em quem fuma a planta, entre 1963 e 1964. Com a descoberta, também foi capaz de isolar outros compostos da erva, como o Canabidiol (CBD), atualmente usado nos medicamentos produzidos através da planta.

Mechoulam foi professor durante décadas na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, e suas pesquisas também puderam identificar a presença de receptores e enzimas, no corpo humano, que ligam-se e reagem a esses componentes da maconha.

Em entrevista à Folha, declarou que sempre teve interesse, como químico, em desenvolver produtos naturais que auxiliassem no bem estar humano. “Milhões usavam a cannabis sem conhecimento detalhado de sua estrutura química e farmacológica ou de seus efeitos fisiológicos e biológicos. Por isso decidi estudá-la”, contou.

Atualmente, remédios a base de Canabidiol são usados para tratar Alzheimer, glaucoma, Parkinson, esclerose múltipla, epilepsia, câncer e depressão, entre outras coisas.

Sobrevivente do Holocausto

Nascido em 1930 em Sofia, na Bulgária, era ainda muito pequeno quando o regime nazista subia ao poder na Alemanha. Anos depois, durante sua infância, encarou o terror do Holocausto e sobreviveu.

Depois da guerra mudou-se para Israel, onde décadas mais tarde, no começo dos anos 60, trabalharia como pesquisador e químico no Weizmann Institute of Science. Foi ali que participou da descoberta do THC junto dos colegas Yehiel Gaoni e Habib Edri.

Os 60 anos dedicados ao estudo da cannabis e os mais 350 artigos científicos publicados lhe renderam uma série de prêmios. Em 2000, foi o vencedor do Prêmio Israel de Pesquisa Química.

Entre 1999 e 2000 foi presidente da International Cannabinoid Research Society e desde 2007 atuava como presidente do setor de ciências naturais da Academia Nacional de Ciências de Israel. Chegou a ser apontado, pelo Jerusalem Post, em 2014, como um dos 50 judeus mais influentes do mundo.

Sua história virou filme. Em The Scientist (O Cientista), de 2015, é possível acompanhar os principais episódios da sua vida, em especial a trajetória como cientista. Entre os principais momentos, o dia que a polícia de Israel lhe deu tabletes de haxixe para que iniciasse a pesquisa e o primeiro teste com pacientes com convulsão, mais adiante, que foi realizado no Brasil.

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