O trem com 150 vagões, sendo que 20 deles carregados com uma substância tóxica altamente cancerígena e inflamável, o cloreto de vinila, que descarrilhou e explodiu no estado de Ohio, nos EUA, próximo à divisa com a Pensilvânia, na cidade de East Palestine, tomou os noticiários do mundo todo nesta segunda-feira (13). Só que pouca gente, num primeiro momento, se atentou para um detalhe: o acidente foi há 10 dias, em 3 de fevereiro.
As imagens da explosão são impressionantes. Um cogumelo negro colossal de fumaça sobe aos céus na paisagem campestre do estado norte-americano e as chamas são gigantescas nos vagões tombados e consumidos pelo fogo. Aproximadamente 2 mil pessoas foram retiradas num raio de quase dois quilômetros do ponto da explosão e milhares de animais apareceram mortos horas após o ocorrido. Foi então que uma pergunta tomou as redes.
Por que, num país que tem uma imprensa forte, bem equipada e extremamente profissional, um fato de tamanha relevância e com imagens impressionantes só seria levado ao noticiário nacional 10 dias depois?
Claro que há muita gente que não pode ver uma teoria da conspiração que já quer aderir, mas, de fato, o atraso em reportar mundialmente o acidente fez com que o termo “Chernobyl” se propagasse pelas redes sociais.
O desastre de Chernobyl, ocorrido em 1986 na extinta União Soviética, foi a maior tragédia nuclear da história. O reator da usina nuclear que leva o mesmo nome do sombrio episódio ficou instável e explodiu durante um teste de segurança, espalhando uma imensa carga de radiação na atmosfera, resultando numa verdadeira catástrofe. Centenas de pessoas morreram logo após a explosão e outras milhares meses e anos depois. A nuvem radioativa circulou pela Europa e mostrou ao mundo os horrores que a energia atômica pode causar.
Mas o que Chernobyl tem a ver com o descarrilhamento do trem da pequena East Palestina, em Ohio?
A imprensa soviética, à época do acidente nuclear de Chernobyl, era controlada pelo governo, que por sua vez proibiu qualquer menção ao que havia acontecido. Quando era questionado sobre o que se passava, já que satélites e sismógrafos haviam captado a explosão, o Kremlin dizia tratar-se de um problema simples e corriqueiro, até que três dias depois a autoridade atômica da Suécia resolveu cobrar Moscou sobre um vazamento radioativo detectado perto de uma de suas usinas, mas que os testes mostraram não estar vazando, sinalizando que a nuvem estava vindo do outro lugar.
O termo Chernobyl, tanto nos EUA como em outros países, como o Brasil, se popularizou nas redes nesta segunda-feira (13) porque para alguns internautas o governo norte-americano estaria escondendo o desastre ferroviário de East Palestine, assim como fizeram os soviéticos com o do reator que explodiu na usina nuclear. Para esses usuários das redes, a tentativa de não propagar a notícia do descarrilhamento e da imensa nuvem tóxica seria para encobrir uma suposta catástrofe nas mesmas dimensões daquela ocorrida há 37 anos, especialmente tendo em vista a proliferação de imagens de animais mortos que estão aparecendo na região.
Contudo, não há qualquer evidência, por ora, que indique que o incidente nos EUA tenha magnitude igual ou semelhante à tragédia ocorrida na União Soviética em 1986.