Em declaração à imprensa após reuniões bilaterais em Berlim nesta segunda-feira (4), o chanceler alemão, Olaf Scholz, ao lado do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, expôs o golpismo bolsonarista para o mundo ao mencionar os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro.
"Caro Lula. Eu quero mencionar o evento triste, nós todos nos lembramos das imagens tristes de Brasília quando uma multidão desenfreada destruiu os símbolos da democracia. Não só as janelas do palácio foram quebradas. Se quebrou algo em matéria de democracia. Ficou claro que nossas democracias têm que ser resilientes, por isso vamos combater a desinformação, as campanhas de ódio nas redes sociais", pontuou Scholz.
Assista:
Lula, por sua vez, afirmou que as ameaças ao Estado Democrático de Direito foi uma das pautas da reunião com o chanceler alemão e anunciou, ainda, que ambos os países assinaram declaração sobre integridade da informação e combate à desinformação.
"Conversamos também sobre as ameaças à democracia e ao Estado de Direito. Concordamos em atuar juntos no enfrentamento de forças antidemocráticas que atuam de forma coordenada internacionalmente e fomentam o extremismo. Esse é o espírito da Declaração Conjunta sobre Integridade da Informação e Combate à Desinformação", destacou o presidente brasileiro.
Acordos
Lula e Olaf Scholz formalizaram um compromisso conjunto durante a 2ª Reunião de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível, realizada em Berlim, na Alemanha. A última reunião do tipo havia sido realizada em 2015.
O acordo abrange uma variedade de áreas, incluindo meio ambiente e mudanças climáticas, agricultura, bioeconomia, energia, saúde, ciência, tecnologia e inovação, desenvolvimento global, integridade da informação e combate à desinformação. Esses acordos vinham sendo discutidos ao longo de meses.
Em uma declaração à imprensa após o encontro, Lula enfatizou a abrangência das iniciativas.
"Adotamos uma parceria para uma transformação ecológica e socialmente justa. Reforçaremos a sólida cooperação na área ambiental, incluindo o Fundo Amazônia e vários outros projetos. Pretendemos atuar conjuntamente na promoção da industrialização verde, agricultura de baixo carbono e bioeconomia".
O chanceler Olaf Scholz endossou o compromisso de ambos os países com a sustentabilidade e a descarbonização das indústrias. De acordo com Scholz, a Alemanha lançará projetos para apoiar a meta brasileira de alcançar o desmatamento zero até 2030.
"Queremos criar indústrias neutras e promover pesquisa em questões climáticas. Essa transição só será bem-sucedida se for socialmente justa (...) Os nossos ministros assinaram mais de uma dúzia de declarações de intenção para dotar essa parceria de conteúdo. Isso envolve uma cooperação aprofundada nos setores de energias renováveis e hidrogênio. Nós associamos o potencial do Brasil ao interesse da Alemanha no hidrogênio verde".
Leia abaixo a íntegra da declaração de Lula após reunião com Olaf Scholz
É uma grande satisfação voltar à Alemanha, país onde construí laços de amizade e respeito ao longo de toda a minha trajetória sindical e política.
Venho a Berlim, diretamente da COP 28 em Dubai, para presidir, ao lado do meu amigo Olaf Scholz, a segunda Reunião de Consultas Intergovernamentais de Alto Nível.
Este mecanismo de consultas não se realizava desde 2015.
Estamos trabalhando para recuperar o dinamismo de nossa parceria.
A reunião de hoje trouxe excelentes resultados e traça um caminho para a nossa cooperação daqui em diante.
Adotamos a Parceria para uma Transformação Ecológica e Socialmente Justa.
Vamos reforçar a robusta cooperação na área ambiental, que inclui o Fundo Amazônia e muitos outros projetos.
Queremos atuar juntos na promoção da industrialização verde, a agricultura de baixo carbono e a bioeconomia.
Expliquei ao Chanceler Scholz as medidas que estamos tomando para cumprir a meta de zerar o desmatamento até 2030 e combater os ilícitos ambientais.
Este ano, reduzimos o desmatamento na Amazônia em quase 50%.
Conversamos também sobre as ameaças à democracia e ao Estado de Direito.
Concordamos em atuar juntos no enfrentamento de forças antidemocráticas que atuam de forma coordenada internacionalmente e fomentam o extremismo.
Esse é o espírito da Declaração Conjunta sobre Integridade da Informação e Combate à Desinformação.
Graças ao trabalho preparatório intenso de nossos ministros, foram firmados nesta visita outros textos nas áreas de meio ambiente, mudança do clima, agricultura, bioeconomia, energia, saúde, ciência, tecnologia e inovação.
A Alemanha é o mais tradicional parceiro do Brasil em matéria de cooperação técnica e financeira.
O BNDES e o banco de fomento alemão KfW vão estreitar ainda mais sua parceria, que já dura 60 anos.
Participaremos, ainda hoje, de seminário empresarial para discutir oportunidades abertas pelo novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Amanhã, 5 de dezembro, será realizado, aqui em Berlim, o “Dia de Inovação do Brasil”, que vai conectar brasileiros e alemães em torno de discussões sobre startups, governo digital e inteligência artificial.
Em 2024, vamos comemorar o bicentenário da imigração alemã no Brasil, com atividades nos dois países.
Discuti com o Chanceler Scholz os esforços que estamos fazendo para concluir o Acordo entre o MERCOSUL e a União Europeia.
São quase 23 anos de esforços inconclusivos.
Na próxima quinta-feira, na Cúpula do MERCOSUL, teremos um momento decisivo nessa negociação.
Reiterei ao Chanceler a expectativa de que a União Europeia decida se tem ou não interesse na conclusão de um acordo equilibrado.
Num contexto de fragmentação geopolítica, a aproximação entre nossas regiões é central para a construção de um mundo multipolar e o fortalecimento do multilateralismo.
Tivemos, ainda, a oportunidade de fazer um balanço do segmento de alto nível da COP 28 de Dubai, do qual ambos participamos.
Reiterei o convite ao Chanceler Scholz para participar da da COP 30, que será realizada em Belém, na Amazônia brasileira, em 2025.
A Alemanha é o primeiro país do G20 que visito após assumir a presidência do grupo.
Reafirmei as prioridades da presidência brasileira em combater as desigualdades, a pobreza, a fome, a mudança do clima e discutir a reforma das estruturas da governança global.
Agradeço ao Chanceler Scholz e ao governo alemão pela excelente acolhida.
Muito obrigado.