ARGENTINA

De Elon Musk a Mercado Livre: ricaços e empresas beneficiados pela "motosserra" de Milei

Decretaço de Milei, que teria sido redigido por advogados ligados a grupos transnacionais, é exemplo prático da aliança entre o sistema financeiro neoliberal e o fascismo.

Javier Milei com seu ministério na Argentina.Créditos: Twiiter / Javier Milei
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Em 15 dias de governo na Argentina, o "anarcocapitalista" - como é classificado pela mídia hegemônica - Javier Milei está mostrando na prática que a ascensão da ultradireita fascista no mundo está relacionada intimamente aos ganhos dos detentores do capital, que buscam regimes autoritários para concretizar as políticas neoliberais não consumadas em governos democráticos.

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Em longa reportagem de Ari Lijalad, o site El Destape listou os ricaços e setores empresariais beneficiados diretamente pelo Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), apelidado de "plano Motoserra", de Javier Milei.

O decretaço que modificou ou revogou 366 leis no país teria sido redigido sob encomenda a escritórios de advocacia que têm contrato com 4 megaempresários do pais: Paolo Rocca, Eduardo Eurnekian, Eduardo Elsztain e Marcos Galperín - saiba quem são eles.

O decretaço teria sido feito para beneficiar pontualmente empresários e indústrias que apoiaram a ascensão política de Milei, eleito em uma campanha que segue a mesma receita da que levou Jair Bolsonaro (PL) ao poder no Brasil em 2018, com ataques à instituições e sob patrocínio de setores da construção civil, sistema financeiro e agronegócio.

Veja, ponto a ponto, alguns dos empresários e grupos beneficiados pelo "plano motosserra" de Milei na Argentina, que teria sido redigido pelos escritórios de advocacia Bomchill, Mairal e Bruchou & Funes de Rioja - esse último comandado por Daniel Funes de Rioja, presidente da União Industrial da Argentina (UIA).

Elon Musk

Um dos homens mais ricos do mundo, Elon Musk foi beneficiado pelo dispositivo do decreto que diz que a disponibilização de instalações para sistemas de comunicações por satélite será gratuita” e que apenas “será necessário um registo para o seu funcionamento, com o único propósito de para coordenar o uso de radiofrequências e evitar interferências com outros sistemas". O decreto também incluiu a tecnologia de satélite entre aquelas que podem fornecer "transmissão por assinatura".

Assim, Musk deve implantar além da internet via Starlink - o mesmo conjunto de satélites negociados com Jair Bolsonaro (PL) para fornecer internet na Amazônia - além de disponilizar conteúdo. Além de Musk, a medida ainda beneficia outras gigantes das comunicações - como a Claro, do mexicano Carlos Slim. A abertura do setor teria sido negociada diretamente pelo embaixador argentino nos Estados Unidos, Gerardo Werthein, ex-presidente do Comité Olímpico Argentino (COA).

Marcos Galperín e Mercado Livre

Entusiasta da candidatura Milei, Marcos Galperín é herdeiro da Sadesa, transnacional do setor pecuário e um dos principais grupos de curtumes do mundo, e ficou conhecido por ser fundador e presidente do Mercado Livre, plataforma de venda online. O empresário teria requisitado e sido o principal beneficiário do dispositivo que autoriza o pagamento de trabalhadores por outros meios sem ser em peso - moeda corrente na Argentina.

Na prática, a medida - que libera a remuneração em bitcoins e até mesmo o valor equivalente em produtos, como carne e leite - permite que o empresário use o Mercado Pago, meio de pagamento exclusivo do Mercado Livre, para remunerar seus empregados. O Mercado Pago não é autorizado pelo Banco Central argentino a operar como instituição financeira. Em caso de calote, os trabalhadores ficariam sem a remuneração.

Milei compartilha apoio de dono do Mercado Livre ao decretaço. (Reprodução)

Banqueiros

Próximo a banqueiros como Eduardo Elzstain, dono do Banco Hipotecario, Juan Nápoli, do Banco de Valores, e da família da chanceler Diana Mondino, que dirige o Banco Roela, Milei incluiu os bancários entre os trabalhadores que são proibidos de fazer greve.

Os bancos também foram beneficiados com as medidas que destruiram a legislação trabalhista e com o dispositivo que possibilita a privatização do Banco Nación, maior banco argentino.

A entrega do banco público por estimados US$ 25 bilhões foi negociada dois dias antes da posse com um enviado de Santiago Bausili, nomeado por Milei como presidente do Banco Central. A medida ainda teve o aval do ministro da Economia, Luis Caputo. Oriundo do governo Maurício Macri, ele já comandou o banco alemão Deutsche Bank na Argentina e a gestora de fundos Axis. 

O decreto de Milei ainda elimina a obrigação de organizações públicas e do Judiciário terem seus depósitos no Banco Nación antes mesmo da privatização.

Grupo Clarín

Com poder semelhante - ou maior - da Globo no Brasil, o grupo Clarin foi fundado pela família Noble e tem como principais acionistas Héctor Magnetto, José Antonio Aranda e Lucio Rafael Pagliaro, que juntos detêm 70% do capital. O restante se divide em 9% da Goldman Sachs e 9% do Governo argentino.

Em seu decreto, Milei elimina diretamente os limites às licenças de TV e rádio a nível nacional, abrindo possibilidade do Clarin expandir ainda mais seu monopólio da comunicação. Além disso, o decreto proíbe greves na mídia, classificada agora como “atividades de importância transcendental”.

O fascista ainda revogou a lei que declara “de interesse público a fabricação, comercialização e distribuição de celulose e papel jornal”. A empresa Papel Prensa, cedido ao Clarín pela última ditadura empresarial militar, voltará a dar papel apenas a quem quiser. 

Petrolíferas transnacionais

O decretaço de Milei também foi comemorado pelas grandes transnacionais do petróleo, como Shell e Exxon, por revogar a Lei do Abastecimento, que regulava os preços internos dos combustíveis - que tiveram aumento de mais de 60% após a posse do novo governo.

O decreto ainda dá benefícios tributários à empresas que atuam no setor de enegia, como Transportadora de Gas del Norte (TGN), Transportadora de Gas del Sur (TGS) e Camuzzi no gás e Pampa Energía, Transener, Edesur e Edenor.

Ruralistas

Além de serem beneficiados com a medida que permite o pagamento de funcionários com carne, leite e até bananas, o setor agroindustrial argentino agora poderá vender toda a produção, em dólar, no exterior.

Com isso, os preços dos alimentos vão aumentar ainda mais e provocar uma explosão da já alta inflação no país.

Além disso, o decreto proíbe greves de funcionários de transnacionais como Cargill, Dreyfus, Bunge, ADM Agro, Aceitera General Deheza, COFCO e Molinos Agro, ao considerar que as paralisações vão afetar a “produção de bens e/ou serviços de qualquer atividade, que sejam afetados por compromissos de exportação”.

Outra medida também abre espaço para a terceirização e contrato de trabalhadores por temporada, o que é considerado um aval para o emprego de mão de obra análoga à escravidão no campo.

O decretaço de Milei ainda beneficia setores ligados à mineração, liberando a exploração por empresas transnacionais. O lítio é um dos principais minérios que provocam a sanha de empresários de todo o mundo, como o próprio Elon Musk.

Além disso, Milei liberou a venda de terras para estrangeiros - que antes estava restrita a 15% e proibida em territórios de fronteira.