O extremista de direita Javier Milei, presidente eleito da Argentina, berrou como nunca na campanha, prometeu mundos e fundos ao seu eleitoral sedento por medidas radicais e reacionárias, mas já começa a dar meia volta e retirar pouco a pouco o que havia dito. Um exemplo disso foi um fato ocorrido neste domingo (26), em Brasília.
Milei falou várias vezes que ia cortar relações com o Brasil e com a China, chamando o presidente Lula (PT) até mesmo de “ladrão”, tudo por razões ideológicas. Depois, vendo que seu país tem uma dependência muito grande do vizinho em termos econômicos, afirmou que permitiria todo tipo de negócio, mas que não estabeleceria qualquer tipo de contato conosco. Pelo visto, já pediu arrego.
Sua futura chanceler, Diana Mondino, deputada eleita e já confirmada pelo radical do “La Libertad Avanza” como chefe da pasta das Relações Internacionais, desembarcou em Brasília e foi diretamente encontrar seu homólogo brasileiro, Mauro Vieira, o comandante do Itamaraty. Numa foto cheia de sorrisos e afabilidade, Diana ainda entregou em mãos ao chefe da política externa do Brasil o convite oficial de Milei para que Lula vá à sua cerimônia de posse.
Diante dos rompantes de fúria e dos xingamentos feitos durante toda a campanha eleitoral argentina, o petista já havia sinalizado que não compareceria ao evento. Interlocutores próximos teriam até mesmo dito que Lula só iria “se Milei se desculpasse pelos insultos”.
Com a ausência do maior líder de esquerda do continente na festa, quem se assanhou foi o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que surfou a onda da vitória nas urnas do extremista argentino e anunciou sua ida à posse. Ele até mesmo formou uma “comitiva” com quase 30 pessoas, sobretudo composta por parlamentares do núcleo mais extremista do bolsonarismo, para chegar saudando Milei em Buenos Aires no dia 10 de dezembro.
Segundo fontes do Itamaraty, a visita de Diana e o gesto de reaproximação de Milei foram costurados pelo embaixador da Argentina em Brasília, Daniel Scioli, e do Brasil em Buenos Aires, Julio Bitelli. O clima entre as lideranças dos dois países já teria melhorado após os contatos dos últimos dias e o encontro de hoje.
Resta saber agora se Lula e seu staff das Relações Exteriores deixarão de lado a ideia de não comparecer à posse de Javier Milei. A presença de Bolsonaro e de seu séquito de aloprados, que certamente tentarão criar constrangimentos, é ainda uma barreira para que o presidente brasileiro mude de ideia. A ida do ex-ocupante de extrema direita do Palácio do Planalto à festa de um chefe de Estado eleito, como é o caso de Milei, tem sido muito criticada e atacada por quem atua no ramo, vista como uma falta de noção de um sujeito sem cargo e não investido de qualquer institucionalidade querendo aparecer no ato oficial.