FOGO AMIGO

Israel pode ter aplicado Protocolo Hannibal na guerra; entenda

Novas dúvidas sobre o 7 de outubro

Dúvida.Liel, de 12 anos: vítima do Hamas ou de um tiro de tanque de IsraelCréditos: Reprodução
Escrito en GLOBAL el

Na bruma da propaganda de guerra, as Forças de Defesa de Israel [IDF] exibem vídeos de túneis que estariam no entorno ou sob o hospital Shifa, em Gaza, enquanto soldados do Hamas tentam parecer simpáticos a reféns israelenses que acabaram de libertar.

Será um trabalho de anos até que investigadores esclareçam alguns dos episódios mais importantes do conflito que teve início em 7 de outubro.

Quem, afinal, atirou a bomba que matou centenas no Hospital Batista? O Hamas levou reféns feridos até o hospital Shifa para preservar-lhes a vida ou para usar as instalações como esconderijo? Israel aplicou ou não o Protocolo Hannibal?

Adotado em 1986, o Protocolo foi batizado com o nome do general de Cártago que preferiu se envenenar a ser capturado por inimigos de Roma.

A ideia inicial do protocolo era evitar a captura de soldados de Israel como reféns por forças inimigas.

Embora oficialmente se diga que o Protocolo foi abandonado, analistas avaliam que pode ter sobrevivido como ordem informal de oficiais a soldados: se for preciso, sacrificar israelenses para evitar a captura de reféns.

Hoje em dia, um acordo específico feito por Israel em 2011 é visto pela extrema-direita que governa o país como um erro grosseiro: a troca do soldado Gilad Shalit por 1.027 militantes palestinos presos.

Apoiadores do governo de Benjamin Netanyahu sustentam que o caso Gilad colocou em liberdade palestinos responsáveis por ações militares posteriores contra Israel.

No início do atual conflito, Israel bombardeou Gaza como se não houvesse amanhã, demonstrando despreocupação com possível morte de reféns.

Cedeu depois da pressão das famílias de reféns, que neste sábado reuniram mais de 100 mil pessoas em defesa do cessar-fogo nas ruas de Tel Aviv.

A destruição na casa onde estavam soldados do Hamas e reféns israelenses é compatível com tiros de tanque. Reprodução

HELICÓPTEROS E TANQUES

A especulação de que Israel aplicou informalmente o Protocolo Hannibal no dia 7 de outubro ganhou força com a notícia publicada pelo diário israelense Haaretz, baseado em informações de uma investigação local, de que helicópteros Apache de Israel atiraram desordenadamente ao reagir ao ataque do Hamas.

Teriam matado, por fogo amigo, um número incerto de israelenses que fugiam do Festival Nova, a rave que chegou a reunir milhares de jovens perto da fronteira de Gaza.

Fogo amigo também teria sido a causa da morte da menina Liel Hetzroni, de 12 anos de idade, que Israel transformou num símbolo internacional da barbárie do Hamas.

Nas redes sociais, perfis associados ao governo de Benjamin Netanyahu exibiram soldados buscando fragmentos de ossos de Liel com uma peneira e atribuindo a morte dela ao Hamas.

Neste sábado, no entanto, o jornalista Max Blumenthal, do Grayzone, sustentou que Liel foi morta por um tiro de tanque de Israel contra uma casa de uma comunidade onde cerca de 40 militantes do Hamas mantinham 15 reféns.

Uma sobrevivente da tragédia, Yasmin Porat, a única que conseguiu sair viva da casa, disse que acompanhou o desfecho do impasse à distância.

De acordo com entrevista gravada de Yasmin, que Blumenthal resgatou e traduziu, a israelense contou que tanques de Israel dispararam duas vezes contra a casa.

Porat não teve acesso ao lugar depois do desfecho, mas suspeita que foram os disparos de tanque que mataram os reféns, inclusive a menina Liel, que teve o corpo carbonizado.

Yasmin Porat disse que ao sair da casa passou informações completas sobre o que estava acontecendo às forças de segurança, que portanto sabiam da presença dos reféns.

Israel já reduziu de 1.400 para 1.200 o número de israelenses mortos pelo Hamas no 7 de outubro, alegando que subestimou o número de militantes palestinos mortos.

Depois que o Haaretz vazou informações oficiais sobre o suposto ataque de helicópteros contra israelenses, o diário foi ameaçado de fechamento e de perder qualquer tipo de apoio governamental.