O carioca Caio Benício, de 43 anos, mora em Dublin, capital da Irlanda, e lá trabalha como entregador de aplicativos. Ele circulava pelo centro da cidade na última quinta-feira (23) quando se deparou com o que achou que fosse uma briga. Na verdade, estava sendo testemunha de um caso de percussão mundial: o imigrante argelino que esfaqueou dois adultos e três crianças em plena via pública, à luz do dia, bem na frente de uma escola.
Tudo que ocorreu a partir daquele instante viria para tornar Benício um herói nacional na Irlanda, indo parar na capa dos jornais do país. Tudo porque ele, mesmo operado recentemente do joelho, largou a moto no meio da rua, partiu para cima do esfaqueador e à base de capacetadas muito bem dadas o nocauteou.
“Quando eu vi a faca, joguei a moto no chão e fui pra cima do cara que estava esfaqueando a criança de 5 anos no peito. Nem pensei em nada, tirei meu capacete, dei uma porrada na cabeça dele e derrubei o cara”, contou o brasileiro num áudio enviado a amigos logo depois do fato.
O entregador relatou também que ao chegar na delegacia para registro do crime, horas depois de colocar o argelino para “dormir” com fortes pancadas de capacete, ainda “estava nervoso, se tremendo todo”. Ele, assim como a polícia irlandesa, não sabe o que motivou o ataque sangrento e covarde, mas segundo Benício, o sujeito “não era um terrorista, mas sim um maluco”.
Herói em meio à vergonha
As horas que se seguiram ao ataque transformaram Dublin num inferno. Centenas de integrantes de movimentos xenófobos de extrema direita iniciaram um “protesto” pelas ruas da capital, deixando um rastro de destruição e fazendo ecoar discursos de ódio por todo o planeta. Até o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, precisou ir à imprensa e se desculpar ao mundo pelo show de horrores dos extremistas ultrarreacionários, dizendo que ações daquele tipo contra estrangeiros “não refletiam o pensamento dos irlandeses”.
Em meio a tudo isso, Benício tornou-se exatamente o oposto: o imigrante herói que impediu uma tragédia ainda maior. A partir daí, uma vaquinha para ajudá-lo financeiramente bombou nas redes e o carioca, até o início desta tarde de sábado, já tinha para receber quase 337 mil euros, o equivalente a mais de R$ 1,8 milhão.
“Se a menininha não sobreviver aos ferimentos, vou sempre pensar que poderia ter agido mais rápido, mas como estou me recuperando de uma cirurgia no joelho, demorei um pouco para sair da moto... Se as vítimas sobreviverem, serei grato por ter estado no lugar certo, na hora certa”, disse ainda o herói que não usa capa, mas sim um capacete, em entrevista a um jornal irlandês.