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EXCLUSIVO – Entrevista com o chefe da emergência do hospital Al-Shifa, em Gaza

Mohammad Abed Alkhalq Iskafi falou ao jornalista italiano Paolo Vittoria e explicou como ocorreu a entrada das tropas israelenses na unidade de saúde, acusada de ser “base do Hamas”

Soldados israelenses entrando no Hospital Al-Shifa, em Gaza.Créditos: SkyNews/Reprodução
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O médico Mohammed Abed Alkhalq Iskafi, diretor do serviço de emergência do hospital Al -Shifa, que fica ao norte de Gaza, principal cidade e capital do território palestino da Faixa de Gaza, concedeu entrevista ao jornalista italiano Paolo Vittoria, para publicação exclusiva no Brasil pela Fórum. O profissional de saúde falou ao telefone, no sábado (18), logo após encerrar um dia de trabalho no hospital, que recentemente foi invadido por soldados das IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em inglês) e passou, então, a ser acusado de servir de base para o grupo Hamas.

Paolo Vittoria – O Hospital Al-Shafa está sendo evacuado, embora o exército de Israel afirme não ter dado ordens nesse sentido. Seriam as notícias controversas, como sempre?

Mohammad Abed Alkhalq Iskafi – O exército de Israel invadiu o hospital há poucos dias e, esta manhã (18), pediu aos médicos e pacientes que evacuassem o hospital dentro de uma hora. Inicialmente, quando invadiram o hospital, havia cerca de 650 pacientes, mas esta manhã eram 150, além de 30 recém-nascidos nas incubadoras. Alguns pacientes já evacuaram o hospital, mas ainda há outros, principalmente recém-nascidos, no hospital, e pacientes que não conseguem se movimentar. Outros estão inconscientes e precisam da assistência da Cruz Vermelha porque não podem mover-se e ninguém pode assumir a responsabilidade por eles. Parece que Israel está organizando a evacuação com a Cruz Vermelha e alguns médicos ainda estão no hospital acompanhando estes casos. Ao mesmo tempo, há muitas pessoas mortas, gente sem vida no hospital e ninguém pode fazer nada por elas. Os soldados israelenses devem ter levado 120 deles, mas não sei para onde, só sei que são todos palestinianos.

O exército de Israel pediu para evacuar e ir para o sul de Gaza, mas o problema é que estes pacientes teriam que caminhar 25 quilômetros. Então, a situação desses pacientes e de seus familiares é péssima. Provavelmente alguns deles estão sujeitos a morrer no caminho. E ainda por cima não há comida no hospital. Esta é a situação.

PV – Vocês têm apoio da ONU e de organizações não governamentais, além da Cruz Vermelha, para essa evacuação?

MAAI – As pessoas que estão fora do hospital estão caminhando, os que ainda estão no hospital aguardam o apoio da ONU, ou de pessoas, ou ainda de agências internacionais para as evacuarem com carros especiais, ou outros meios de transporte, mas ainda não temos notícias por parte deles. Então ainda estamos esperando.

PV – O exército de Israel tentou provar que o hospital é uma base do Hamas, mas as evidências parecem inconsistentes e sugerem que sejam uma falsidade. O que ocorre?

MAAI – Não fizemos nada no hospital, a não ser tratar os doentes, e não há absolutamente nada a ver com o Hamas. Portanto, estes são artifícios por parte do exército de Israel, mas ainda podemos esperar mais de Israel. Eles construíram uma mentira porque Hamas nunca usou o hospital como base. Esperamos o que eles querem ver, ou mesmo mostrar, mas sabemos que dentro do hospital não há nada que tenha a ver com o Hamas. O exército de Israel está usando o hospital como propaganda militar.

*Entrevista publicada também na Itália pelo jornal Il Manifesto, em 19 de novembro.