BIZARRO

Israel manda mensagem a pacientes em Gaza: esvaziem hospital

Crescente Vermelha se nega a atender ordem

Flagrante.Câmera operada remotamente registra bombardeio no entorno do Hospital Quds, na cidade de GazaCréditos: Reprodução de vídeo
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Médicos, funcionários e até pacientes do Hospital Quds, em Gaza, receberam por telefone mensagens do Exército de Israel de que devem se retirar imediatamente.

A informação é da emissora árabe Jazeera e foi confirmada pela Crescente Vermelha, a versão local da Cruz Vermelha.

Depois de um completo blecaute, parte das comunicações em Gaza foram retomadas, de acordo com a empresa Paltel.

Um porta-voz da Crescente Vermelha disse à agência turca Anadolu que não haverá retirada do hospital.

Nas redes sociais, o grupo informou que bombardeios de Israel estavam acontecendo a apenas 50 metros do hospital, que fica no bairro Colina do Vento, na cidade de Gaza, a principal concentração urbana do território palestino.

"Reiteramos -- é impossível esvaziar hospitais cheios de pacientes sem colocar em risco a vida deles", disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde.

Ele afirmou ter tido contato com funcionários da OMS em Gaza:

Tal como acontece com todas as pessoas em Gaza, eles e suas famílias não estão seguros. Disseram que as últimas duas noites foram extremamente tensas, com muitos ataques aéreos – sem combustível, água, eletricidade, conectividade e abrigo seguro para onde se retirar. Os hospitais estão sobrecarregados de pacientes.

De acordo com a Crescente Vermelha, o hospital Quds abriga 500 pacientes e tem cerca de 14 mil refugiados em suas instalações e imediações (ver imagens abaixo).

Antes de iniciar a ofensiva por terra, Israel divulgou massivamente nas redes sociais uma simulação de vídeo alegando que o maior hospital de Gaza, o Shifa, abrigava líderes do Hamas em seus subterrâneos.

Na apresentação ficcional, o autor colocou até bandeiras do Hamas em escritórios e desenhou sofisticadas salas de comando.

Funcionários do hospital desmentiram e convidaram autoridades internacionais a visitar as instalações.

A simulação foi vista pelos palestinos como uma peça de propaganda justificando de maneira antecipada mortes de civis em ataques aéreos.

Israel diz que se baseou em dados de sua própria inteligência.

Tel Aviv já tinha acusado anteriormente o Hamas de se esconder nas instalações do Hospital Quds.

Os dois hospitais ficam a apenas algumas quadras um do outro.

O médico Mads Gilbert, que está no Cairo e já trabalhou em Gaza, disse que está "chocado com a falta de respeito à Convenção de Genebra" por parte do governo de Israel, que de maneira repetida vem exigindo o esvaziamento de hospitais.

Ele informou que o diretor Bashar Murad, do Hospital Quds, se negou pela terceira vez a bater em retirada.

Gilbert também disse ter tido contato na manhã deste domingo com o hospital Shifa.

Segundo ele, há 780 pacientes internados e cerca de 40 mil refugiados nas imediações.

50 pacientes estão nos corredores depois de cirurgias. Cem foram colocados em recuperação numa área administrativa. Há 70 pacientes em respiradores e 50 bebês em incubadeiras.

O médico norueguês contou que já trabalhou nos dois hospitais, que teve acesso a todas as instalações com uma câmera e que jamais viu militantes do Hamas tirando proveito dos prédios para se esconder -- ao contrário do que diz Tel Aviv.

Os hospitais enfrentam a falta de insumos, como anestésicos, e correm o risco de ficar sem a energia de geradores por falta de óleo diesel.

Nestas circunstâncias, segundo funcionários dos hospitais, transferir os pacientes seria uma sentença morte.