SUPREMACISMO BRANCO

Congressista dos EUA filho de brasileiros faz gesto supremacista em votação

Sinal é semelhante ao feito em 2021 pelo ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins

Brenton Tarrant, fascista que matou 51 em Mesquita na Nova Zelândia ao chegar ao Tribunal, e Filipe Martins (Montagem).Créditos: Reprodução
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Depois de mentir sobre seu currículo e vida pessoal em campanha eleitoral da qual acabou eleito, o agora Congressista [equivalente a deputado federal] George Santos, filho de brasileiros e aliado de Trump, foi flagrado pela agência Reuters fazendo um gesto supremacista durante votação para a presidência da Câmara dos Representantes dos EUA, que segue indefinida após históricas 13 rodadas de votação.

Os principais candidatos ao terceiro cargo dos EUA são Kevin McCarthy (Republicanos) e Hakeem Jeffries (Democratas). Um racha dentro do partido Republicano, por radicais pró-Trump, impede que McCarthy obtenha maioria da Casa. Desde a década de 1850 um impasse tão duradouro era visto na Câmara dos Representantes. Os radicais republicanos consideram McCarthy um líder fraco para o seu principal objetivo que é destituir o presidente Joe Biden e recolocar Donald Trump no poder.

Já o gesto feito pelo trumpista George Santos em uma dessas 13 sessões, e que lembra um sinal de “OK”, é na verdade uma alusão à sigla ‘WP’ [White power], muito utilizada pela extrema-direita nos EUA, em especial o grupo Proud Boys. Foi classificado como tal em 2019 pela Liga Antidifamação dos EUA. Um dos exemplos mais famosos do seu uso veio por parte de Brenton Tarrant, neonazista da Nova Zelândia condenado por matar 51 pessoas que frequentavam uma Mesquita. Ele fez o “OK supremacista” diante das câmaras dos jornalistas que cobriam seu julgamento.

No Brasil, um caso parecido ocorreu com o então assessor de Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, em março do ano passado. Na ocasião ele fez um gesto muito semelhante ao de Tarrant e Santos. Uma investigação chegou a ser aberta e logo encerrada, com a conclusão de que Martins estaria apenas ajeitando o paletó, como ele mesmo declarou.

Relembre a história de George Santos

George Santos, filho de imigrantes brasileiros eleito deputado federal pelo estado de Long Island, nos Estados Unidos, foi pego no pulo em 19 de dezembro pelo jornal The New York Times (NYT), mentindo sobre uma suposta carreira de sucesso no mercado financeiro, que teria passagens pelo Citigroup e pelo Goldman Sachs. Mas as mentiras e delírios do aliado de Donald Trump sobre si mesmo não param por aí.

Na quinta-feira seguinte (22), com a desmentida repercutindo dentro e fora dos Estados Unidos, com colegas democratas e até mesmo republicanos pedindo explicações, o aliado do ex-presidente Donald Trump utilizou as redes sociais para fazer o anúncio de que contará a história na próxima semana. “Tenho uma história para contar”, disse.

De acordo com a história já contada, inclusive dentro da sua campanha, George Santos estaria no Citigroup, em 2012, subindo na hierarquia da corporação e consolidando uma rápida e exitosa carreira no mercado financeiro. A trajetória do congressista ainda teria uma passagem, também de sucesso, pelo Goldman Sachs anos depois. Acontece que, em apuração do NYC, tanto o Citigroup como o Goldman Sachs afirmaram não possuir quaisquer registros da presença de Santos em seus quadros.

Em contrapartida, na mesma época George Santos tem um registro de emprego na Dish Network, empresa de antenas parabólicas. No call center da firma, localizado no bairro do Queens, em Nova Iorque, ele ficou conhecido como um atendente educado que, além do inglês, também falava português e era frequentemente chamado para atender chamadas de imigrantes brasileiros.

A vida no Queens

Apesar da rigorosa pesquisa, os jornalistas nova-iorquinos não conseguiram encontrar quaisquer registros bancários, financeiros ou imobiliários da fortuna de Santos. O deputado costuma dizer que é herdeiro uma fortuna familiar e que seus parentes seriam importantes empresários do ramo imobiliário no Brasil.

Mas de acordo com ex-amigos e conhecidos de Santos entrevistados pelo NYT, apesar de ele sempre ter se mostrado ambicioso, as descrições feitas em campanha do império imobiliário da família, com propriedades no Brasil e nos EUA, não batem com os apartamentos pequenos que ele morou de aluguel no Queens. Em um dos alugueis, George dividia a casa com a irmã e a mãe, que seria empregada doméstica.

Sua vida no Queens seria tão humilde que, ao largar a família, terá aceitado a companhia de terceiros, como Gregory Parker, para dividir as despesas de aluguel. Parker confirmou ao NYT que havia uma diferença enorme entre o que Santos falava sobre si e a vida que levava. Aparentemente, o filho de imigrantes brasileiros queria dar a entender que era um homem rico.

“Sonho americano”, dívidas e processos

Para aproximar-se do trumpismo, em sua narrativa pública, sublinha que os pais se mudaram de forma “legal” para os Estados Unidos em busca do chamado ‘sonho americano’.

Outro amigo de Santos, Peter Hamilton, disse à imprensa que o atual congressista chegou a lhe dizer que estudava finanças em uma escola que não existia. Ele disse que apesar das histórias misteriosas, achava George carismático e inteligente. Comentou que Santos sempre “sabia o que dizer para as pessoas”. Encantado, emprestou alguns milhares de dólares para Santos, que havia pedido uma ajuda para ir morar com o namorado. Após o empréstimo, o filho de brasileiros desapareceu.

Hamilton moveu um processo contra Santos solicitando reembolso em 2015, do qual o ‘caloteiro’ respondeu que não se trataria de um empréstimo mas de um presente, um favor de um amigo. Obviamente, o juiz não caiu nessa. Além disso, devendo o equivalente a R$ 11 mil de aluguel, o suposto príncipe internacional do mercado imobiliário foi despejado de um apartamento onde morava, no Queens, no mesmo ano. Menos de três meses depois, respondeu a outro processo de despejo e perdeu, tendo de pagar o equivalente a R$ 61 mil. Em 2018, novo revés, dessa vez para o Discovery Bank, no valor equivalente a R$ 9700 por dívidas no cartão de crédito.

Aprontando no Brasil

Cruzando dados públicos dos EUA e do Brasil, o NYT descobriu que o trumpista também inventou um curso no Baruch College, faculdade em Nova Iorque. A instituição não tem registros da sua presença. E a ficha de George Santos não para por aí. Defensor dos animais, seria um dos responsáveis pelo Friends of Pets United, ou União dos Amigos de Animais. No entanto, de acordo com a Receita Federal americana não há registros a respeito da ONG.

O The New York Times encontrou até mesmo um caso de 2008, quando George tinha 19 anos, em que ainda em Niteroi (RJ), no Brasil, roubou o talão de cheques de um colega de trabalho da mãe. Ele teria usado os cheques para comprar sapatos e depois de dois anos confessou o crime e foi denunciado na Justiça. Mas o processo segue em aberto, uma vez que não foi encontrado para ser intimado a depor no Brasil.

Além disso, George ainda foi casado com uma mulher em Manhattan, de 2012 a 2019. O pedido de divórcio não foi contestado e veio no momento em que ele se preparava para sua primeira candidatura. A mulher não foi encontrada pela imprensa. 

Problemas com suposto endereço

Coma residência registrada no bairro de Whitestone, no mesmo distrito onde vota, Santos não mora mais lá. Segundo a dona do apartamento, Nancy Pothos, de 72, ele o marido se mudaram para o imóvel em 2020 e alegaram que se mudaram por conta de vandalismo sofrido por eleitores democratas em janeiro de 2021, após passarem a virada de ano com Donald Trump, na mansão Mar-a-Lago, na Flórida. Pothos, que mora no apartamento de baixo, disse à imprensa que não percebeu quaisquer atos de vandalismo no local.

O atual endereço de George Santos é uma incógnita. Nem ele e nem o atual marido estão em quaisquer registros imobiliários de Long Island ou Nova Iorque. Há rumores de que tenham se mudado para Huntington, um típico bairro de classe média.

*Com informações de O Globo, Reuters e The New York Times.