ITÁLIA

VÍDEO - Governador italiano sobre cidadania a Bolsonaro: "F**-se, não nos importamos com ele"

Fala de Attilio Fontana, governador da Lombardia, se deu após homem invadir evento do partido da primeira-ministra italiana em protesto contra possível concessão de cidadania ao ex-presidente brasileiro

O governador da Lombardia, Attilio Fontana, e o desenho usado por manifestante para protestar contra possível cidadania italiana a Bolsonaro.Créditos: Reprodução
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A possível concessão de cidadania italiana ao ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a ser motivo de debate na Itália. O assunto é pauta no parlamento do país, que se movimenta para evitar que o ex-mandatário brasileiro e também seus filhos tenham o direito da dupla nacionalidade. 

No último sábado (14), um manifestante identificado como Francesco Fortinguerra invadiu um evento em Milão do partido de extrema direita "Irmãos da Itália", legenda da primeira-ministra Giorgia Meloni, e protestou contra a possível concessão da cidadania ao ex-presidente brasileiro e seus familiares

"Chega de Bolsonaro. Sem cidadania para Bolsonaro, não sejam cúmplices", gritou Fortinguerra, que segurava um cartaz com a reprodução de um desenho da artista Cristina Donati Meyer, que mostra o ex-mandatário brasileiro com uma roupa de presidiário e de mãos dadas com a primeira-ministra italiana. A gravura, inclusive, foi afixada por manifestantes na porta do consulado brasileiro em Milão, capital da Lombardia. 

O protesto se deu enquanto o presidente da região da Lombardia (o equivalente a um governador no Brasil) e candidato à reeleição, Attilio Fontana, se preparava para falar. Diante dos gritos do manifestante, Fontana reagiu, e segundo a mídia italiana, ele teria dito, sem saber que estava sendo ouvido, “Cazzo ce ne frega di Bolsonaro”, em português, algo como "Foda-se, nós não nos importamos com o Bolsonaro"

Assista abaixo à cena do protesto e, na sequência, a reação de Attilio Fontana

Debate no parlamento italiano

Durante a sessão da Câmara italiana na última segunda-feira (9), o deputado Angelo Bonelli, da Aliança Verde e de Esquerda, pediu a palavra para solicitar que a casa legislativa atue junto ao Itamaraty e ao Ministério das Relações Exteriores da Itália para que se obtenha informações sobre os pedidos de cidadania feitos por Eduardo e Flávio Bolsonaro e também sobre a possibilidade de Bolsonaro fazer o mesmo. 

Bonelli, que em novembro de 2022 já havia enviado ofício ao Ministério das Relações Exteriores de seu país alertando sobre o fato de que a família Bolsonaro é investigada por casos de corrupção, resolveu fazer a nova intervenção após os atos terroristas promovidos por bolsonaristas em Brasília - aproveitando para prestar solidariedade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao povo brasileiro. 

"Pedi a palavra porque acho que é dever da Câmara relembrar e apontar acontecimentos dramáticos do momento, uma tentativa de golpe no Brasil, de bolsonaristas que atacam as instituições democráticas e questionam a eleição legítima do presidente Lula. É dever da Câmara dar um forte recado ao presidente Lula e ao povo brasileiro", disse Bonelli no início de seu discurso. 

E prosseguiu: "Há rumores da imprensa brasileira de que o Jair Bolsonaro, que está atualmente na Flórida, solicitou cidadania italiana. Você sabia que os filhos de Bolsonaro também solicitaram cidadania? Isso seria um grande problema para a república italiana porque diante dos acontecimentos, que todos nós condenamos, não pode haver incerteza de não dar a cidadania italiana à família Bolsonaro, sobre quem tramitam processos judiciais na Justiça brasileira". 

"Estamos atentos"

Em entrevista à Fórum, o também deputado italiano Fabio Porta afirmou que está "monitorando" o pedido de cidadania dos filhos de Bolsonaro e a possibilidade do ex-presidente fazer o mesmo. 

"Vamos acompanhar, ficar monitorando, estamos de olho, principalmente se as acusações contra o ex-presidente vão continuar e se de alguma maneira se ele virá à Itália como possível lugar de moradia, se realmente for essa a intenção... Vamos ficar atentos para acompanhar o andamento desta situação", disse. 

O deputado pontua que, de qualquer modo, vai exigir que o tempo de espera para obtenção da cidadania seja respeitado, como acontece com qualquer cidadão, e que Bolsonaro não tenha tratamento especial. "Com relação a eventuais acusações ou situações que poderiam envolver o lado penal de uma pessoa, seja o Bolsonaro ou qualquer outro cidadão italiano ou brasileiro, é claro que existem entre Itália e Brasil acordos em matéria de cooperação penal, extradição de presos ou cooperação jurídica. Nós queremos que neste caso se respeite todos os instrumentos legais para que tanto a Itália quanto o Brasil não sejam utilizados como países para fugir das próprias responsabilidades. Então, nesse caso, vamos acompanhar os acontecimentos e também a parte judiciária, se houver algum tipo de processo", afirmou. 

Fabio Porta destacou, ainda, que "cidadania italiana não significa ser isento ou poder  ter algum tipo de tratamento especial", e afirma que seu país deve colaborar com a Justiça brasileira caso Bolsonaro, de fato, obtenha a cidadania e eventualmente seja condenado morando no país europeu. 

"Bolsonaro e os filhos poderiam ter cidadania, mas não deixam de ser cidadãos brasileiros. Nesse caso, a Justiça tem que obedecer as regras, obrigações e recomendações que vêm da cidadania brasileira. Ter uma cidadania italiana não significa deixar de respeitar todas as obrigações da cidadania brasileira. Isso acontece também para o italiano que tem cidadania de outros países, tem que obedecer em primeiro lugar a própria cidadania italiana", sentenciou o parlamentar.