O pedido de cidadania italiana feito pela família Bolsonaro e a possibilidade do próprio ex-presidente também tentar obter a nacionalidade estrangeira para morar na Itália e, assim, fugir da Justiça no Brasil, voltou a ser pauta entre parlamentares do país europeu.
Durante a sessão da Câmara italiana nesta segunda-feira (9), o deputado Angelo Bonelli, da Aliança Verde e de Esquerda, pediu a palavra para solicitar que a casa legislativa atue junto ao Itamaraty e ao Ministério das Relações Exteriores da Itália para que se obtenha informações sobre os pedidos de cidadania feitos por Eduardo e Flávio Bolsonaro e também sobre a possibilidade de Bolsonaro fazer o mesmo.
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Bonelli, que em novembro de 2022 já havia enviado ofício ao Ministério das Relações Exteriores de seu país alertando sobre o fato de que a família Bolsonaro é investigada por casos de corrupção, resolveu fazer a nova intervenção após os atos terroristas promovidos por bolsonaristas em Brasília - aproveitando para prestar solidariedade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao povo brasileiro.
"Pedi a palavra porque acho que é dever da Câmara relembrar e apontar acontecimentos dramáticos do momento, uma tentativa de golpe no Brasil, de bolsonaristas que atacam as instituições democráticas e questionam a eleição legítima do presidente Lula. É dever da Câmara dar um forte recado ao presidente Lula e ao povo brasileiro", disse Bonelli no início de seu discurso.
E prosseguiu: "Há rumores da imprensa brasileira de que o Jair Bolsonaro, que está atualmente na Flórida, solicitou cidadania italiana. Você sabia que os filhos de Bolsonaro também solicitaram cidadania? Isso seria um grande problema para a república italiana porque diante dos acontecimentos, que todos nós condenamos, não pode haver incerteza de não dar a cidadania italiana à família Bolsonaro, sobre quem tramitam processos judiciais na Justiça brasileira".
Assista ao discurso (em italiano)
"Estamos atentos"
Em entrevista à Fórum, o também deputado italiano Fabio Porta afirmou que está "monitorando" o pedido de cidadania dos filhos de Bolsonaro e a possibilidade do ex-presidente fazer o mesmo.
"Vamos acompanhar, ficar monitorando, estamos de olho, principalmente se as acusações contra o ex-presidente vão continuar e se de alguma maneira se ele virá à Itália como possível lugar de moradia, se realmente for essa a intenção... Vamos ficar atentos para acompanhar o andamento desta situação", disse.
O deputado pontua que, de qualquer modo, vai exigir que o tempo de espera para obtenção da cidadania seja respeitado, como acontece com qualquer cidadão, e que Bolsonaro não tenha tratamento especial. "Com relação a eventuais acusações ou situações que poderiam envolver o lado penal de uma pessoa, seja o Bolsonaro ou qualquer outro cidadão italiano ou brasileiro, é claro que existem entre Itália e Brasil acordos em matéria de cooperação penal, extradição de presos ou cooperação jurídica. Nós queremos que neste caso se respeite todos os instrumentos legais para que tanto a Itália quanto o Brasil não sejam utilizados como países para fugir das próprias responsabilidades. Então, nesse caso, vamos acompanhar os acontecimentos e também a parte judiciária, se houver algum tipo de processo", afirmou.
Fabio Porta destacou, ainda, que "cidadania italiana não significa ser isento ou poder ter algum tipo de tratamento especial", e afirma que seu país deve colaborar com a Justiça brasileira caso Bolsonaro, de fato, obtenha a cidadania e eventualmente seja condenado morando no país europeu.
"Bolsonaro e os filhos poderiam ter cidadania, mas não deixam de ser cidadãos brasileiros. Nesse caso, a Justiça tem que obedecer as regras, obrigações e recomendações que vêm da cidadania brasileira. Ter uma cidadania italiana não significa deixar de respeitar todas as obrigações da cidadania brasileira. Isso acontece também para o italiano que tem cidadania de outros países, tem que obedecer em primeiro lugar a própria cidadania italiana", sentenciou o parlamentar.