Manifestantes contra a guerra na Ucrânia e o regime do atual presidente Vladimir Putin tomaram as ruas da Rússia na última quarta-feira (21), sobretudo após anúncio do autocrata de que alistaria 300 mil novos recrutas e de que poderia usar modernas armas nucleares contra seus inimigos. Para além do rechaço internacional que isolou ainda mais o país na esfera internacional, internamente o governo produziu cerca de 1300 presos políticos decorrentes dos protestos em poucas horas e se vê isolado por todos os lados.
Até aí, tudo é esperado, de uma forma ou de outra. Acontece que começaram a chegar relatos para a imprensa internacional de que presos nas manifestações estariam sendo obrigados a assinar alistamentos forçados para a guerra na Ucrânia sob ameaça de permanecerem uma década presos por se oporem ao regime. Foi o caso do músico de 29 anos, Mikhail Suetin que revelou para a Agencia France-Presse (AFP) as ameças e chantagem do Estado russo contra os presos.
“Eu esperava os procedimentos habituais como responder a um processo, mas me disseram: ‘Amanhã você irá para a guerra’. Isso sim foi uma surpresa”, declarou o manifestante que teve sua entrevista traduzida e publicada pelo Estadão. Após sua prisão, Mikhail teria sido levado a uma sala onde tentaram forçá-lo a assinar a intimação de mobilização para a guerra. “Ou assina isso ou passa dez anos na prisão”, disseram os policiais.
O músico se recusou a assinar o documento e teve de esperar cerca de dois dias para ser liberado. Mas o terror putinista não acaba aí. Ao ser liberado, foi informado pelos policiais que seria investigado criminalmente pelo Comitê de Investigação Nacional que, informado sobre a rejeição à guerra, poderia lhe trazer “enormes problemas”.
Outro manifestante, identificado apenas como Andrei, de 19 anos, afirmou também à AFP que após ser preso recebeu a mesma intimação mas acabou assinando o documento sob ameaça e coerção. “Não poderia escapar, infelizmente assinei”, disse o jovem que acaba de iniciar um curso universitário. Mesmo tendo assinado o documento, Andrei não se apresentou ao centro de mobilização e não foi à guerra.
O governo disse, por meio do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, que a prática não seria ilegal na Rússia. No entanto, ela claramente viola os direitos humanos ao enviar a juventude opositora para a linha de frente e manda o recado de que qualquer crítica não apenas será reprimida, como a vida de quem faz a crítica é altamente descartável para os mandatários.
Na Ucrânia
Enquanto isso, na Ucrânia, autoridades exumaram 436 corpos em uma área de floresta na região de Kharkiv nesta sexta-feira (13), recentemente reconquistada pelo país, para investigar os crimes de guerra russos no local. Em 30 desses corpos já foram encontrados sinais de tortura, conforme afirmou o governador da região, Oleg Sinugubov, em grupo no Telegram.
De acordo com o governador a maioria dos corpos tinha indícios de morte violenta. Sinugubov declarou ainda que foi relativamente comum encontrar corpos que ainda traziam pedaços de cordas amarrados ao pescoço, membros quebrados e buracos de balas, além de diversos homens que tiveram as genitálias removidas sob tortura.
Declaração de Putin e isolamento da Rússia
Após sofrer alguns reveses na guerra contra a Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um pronunciamento na TV russa na última quarta-feira (21) onde anunciou a convocação de 300 mil homens, culpou o Ocidente pela guerra em curso e fez ameaça nuclear. Recentemente os ucranianos recuperaram a região de Kharkiv, conquistada pelos russos no início da agressão militar e uma das mais populosas do país.
Em seu discurso, Putin fez uma ameaça direta aos países do Ocidente e afirmou que dispõe de "vários meios de destruição". "Quero lembrá-los que nosso país também tem vários meios de destruição e, em alguns componentes, mais modernos do que os dos países da OTAN. E se a integridade territorial do nosso país estiver ameaça, certamente usaremos todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e o nosso povo".
"Isso não é um blefe! Os cidadãos da Rússia podem ter certeza de que a integridade territorial de nossa pátria, nossa independência e liberdade serão asseguradas, enfatizarei isso novamente, com todos os meios à nossa disposição. E aqueles que tentam nos chantagear com armas nucleares devem saber que os ventos predominantes podem se transformar em sua direção", ameaçou o mandatário russo.
Mas a fala grossa do presidente russo foi logo rebatida pelo Ocidente. "Vamos falar claramente. Um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas invadiu sozinho, tentou apagar o Estado soberano (da Ucrânia) do mapa. A Rússia violou descaradamente os princípios fundamentais da carta das Nações Unidas", disse Biden durante discurso realizado também na quarta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York.
O mandatário dos Estados Unidos classificou a ameaça nuclear de Putin como “imprudente” e culpou a Rússia pela crise de abastecimento de alimentos que atinge o planeta. Biden também prometeu impedir a proliferação e uso dos armamentos nucleares. Também para a ministra de Relações Exteriores do Reino Unido, Gillian Keegan, o discurso de Putin foi considerado “preocupante” e o secretário de Defesa do Rei Charles III afirmou que as ameaças seriam sinal de fracasso do mandatário russo.
* Com informações do Estadão, G1, AFP e DW.