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Mais de mil manifestantes contrários à guerra são presos na Rússia

Após ameaça nuclear que gerou o repúdio global na ONU, protestos internos completam isolamento de Putin; Ocidente acredita que endurecimento no discurso é “sinal de fracasso”

Protestos contra a guerra foram registrados em Moscou nesta quarta (21).Créditos: Reprodução / Twitter@mjluxmoore
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A situação na Rússia, que envolve a guerra na Ucrânia e o isolamento internacional do regime comandado por Vladimir Putin, ganhou novos episódios nesta quarta-feira (21) e está aparentemente se deteriorando. Além das contraofensivas militares ucranianas que recuperaram territórios conquistados pelos russos, e dos episódios de rechaço global às declarações belicosas do presidente russo, o país viveu ao longo do dia uma onda de protestos contrários à guerra e ao governo que já produziu 1178 presos. O número de manifestantes detidos pelo regime putinista pode aumentar ao longo das próximas horas.

O jornalista Matthew Luxmoore, correspondente internacional do The Wall Street Journal em Moscou, foi quem divulgou a informação dos mil presos, posteriormente confirmada pelo The Guardian. O correspondente ainda divulgou uma série de imagens de detenções e protestos. “Não à guerra” e “Putin é o inimigo da Rússia” são as frases mais comuns nos cartazes da população.

Na legenda do vídeo a seguir, o jornalista afirma não ter visto nada parecido com as imagens [que mostram a detenção de um manifestante] desde fevereiro, quando começou o conflito na Ucrânia e as ruas de Moscou expressaram seus primeiros protestos contrários à guerra. Na ocasião, os protestos tiveram uma adesão menor do que os dessa quarta-feira e foram reprimidos com força pelo regime.

Em outro vídeo, divulgado pela NEXTA TV, supostamente o maior meio de comunicação do leste europeu, é possível ver policiais russos, em trajes que lembram os de grupos especiais, arrastando manifestantes pelas ruas de Moscou.

Em outra imagem do jornalista Matthew Luxmoore, é possível ver o interior de uma van policial repleta de pessoas detidas nas manifestações. Jovens com aparência serena se amontam dentro do veículo enquanto aguardam serem levados para algum lugar, provavelmente uma delegacia.

Ameaça Nuclear reverbera na Assembleia da ONU

Após sofrer alguns reveses na guerra contra a Ucrânia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um pronunciamento na TV russa nesta quarta-feira onde anunciou a convocação de 300 mil homens, culpou o Ocidente pela guerra em curso e fez ameaça nuclear. Recentemente os ucranianos recuperaram a região de Kharkiv, conquistada pelos russos no início da agressão militar e uma das mais populosas do país.

Em seu discurso, Putin fez uma ameaça direta aos países do Ocidente e afirmou que dispõe de "vários meios de destruição". "Quero lembrá-los que nosso país também tem vários meios de destruição e, em alguns componentes, mais modernos do que os dos países da OTAN. E se a integridade territorial do nosso país estiver ameaça, certamente usaremos todos os meios à nossa disposição para proteger a Rússia e o nosso povo".

"Isso não é um blefe! Os cidadãos da Rússia podem ter certeza de que a integridade territorial de nossa pátria, nossa independência e liberdade serão asseguradas, enfatizarei isso novamente, com todos os meios à nossa disposição. E aqueles que tentam nos chantagear com armas nucleares devem saber que os ventos predominantes podem se transformar em sua direção", ameaçou o mandatário russo.

Mas a fala grossa do presidente russo foi logo rebatida pelo Ocidente. "Vamos falar claramente. Um membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas invadiu sozinho, tentou apagar o Estado soberano (da Ucrânia) do mapa. A Rússia violou descaradamente os princípios fundamentais da carta das Nações Unidas", disse Biden durante discurso realizado nesta quarta-feira, na Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York.

O mandatário dos Estados Unidos classificou a ameaça nuclear de Putin como “imprudente” e culpou a Rússia pela crise de abastecimento de alimentos que atinge o planeta. Biden também prometeu impedir a proliferação e uso dos armamentos nucleares. Também para a ministra de Relações Exteriores do Reino Unido, Gillian Keegan, o discurso de Putin foi considerado “preocupante” e o secretário de Defesa do Rei Charles III afirmou que as ameaças seriam sinal de fracasso do mandatário russo, e encontrou concordância nas declarações do chanceler alemão, Olaf Scholz.