EXPLOSÃO

“Ultranacionalista reacionário” e “rainha das fake news”: Os perfis de Dugin e sua filha

Veja o que se diz de Alexander Dugin, o “guru ideológico” de Putin, acusado por detratores de estar por trás das ideias de invadir a Ucrânia, e Daria Dugina, morta num atentado a bomba na noite de sábado (20)

Alexander Dugin e a filha, Daria Dugina.Créditos: Redes sociais/Reprodução
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Daria Dugina, filha do filósofo Alexander Dugin, o “guru ideológico” do presidente russo Vladimir Putin, foi alvo de uma grande explosão na noite de sábado (20), quando trafegava por uma estrada próxima a Moscou. Ela morreu no atentado, que possivelmente era direcionado a seu pai, que vinha num outro veículo, num comboio, logo atrás do automóvel dela.

A notícia do ataque correu o mundo e após algumas horas fez com que o governo russo se manifestasse oficialmente. Para as autoridades que compõem o comitê de investigações instalado pelo Kremlin para a apurar o episódio, Dugin e a filha foram alvos de um atentado prévia e minuciosamente planejado, no qual um poderoso explosivo foi instalado na parte inferior do veículo conduzido por ela, que também levaria o pai, mas que de última hora embarcou num outro veículo.

Mas afinal, quem seria Alexander Dugin e quem foi sua filha Daria Dugina, a ponto de atraírem as atenções de inimigos da Rússia num atentado complexo como o ocorrido na última noite? Para seus apoiadores e admiradores, ele é um pensador importante e que advoga em nome de uma Rússia poderosa e que deveria tomar posições como potência frente ao domínio mundial exercido pelos EUA e seus parceiros da União Europeia, mas seus adversários o descrevem de outra maneira.

Dugin é um filósofo que nos últimos anos passou a exercer muita influência ideológica sobre Vladimir Putin, o poderoso presidente da Federação Russa. Sua visão de mundo é descrita como profundamente nacionalista e reacionária, que prega um afastamento e um rechaço ao Ocidente e à Europa, uma vez que suas concepções de mundo veem a Rússia como uma “grande nação de natureza euroasiática”.

Segundo a historiadora Jane Burbank, da Universidade de Nova York, numa entrevista ao diário norte-americano "The New York Times”, esse conceito e essa ideologia remontam o fim do Império Russo, em 1917, e constroem uma perspectiva de um “mundo russo formado por uma profunda história de intercâmbios culturais entre povos de origem turca, eslava, mongóis e outras origens asiáticas”. A partir daí, Dugin passa a atacar todos os atores globais importantes e a reivindicar um protagonismo maior da Rússia, tendo incentivado Putin fortemente para que o país invadisse e anexasse a Crimeia, até então (2014) sob domínio da Ucrânia, acirrando tensões na fronteira leste da gigantesca nação, o que culminou com a atual guerra devastadora com o país vizinho.

Dugin sequer aceitava a existência da Ucrânia, que para ele era “um enorme perigo para toda a Eurásia”, por conta de sua localização e crescente aproximação com o Ocidente, sobretudo com os EUA. Ele chegou a afirmar que o país “deveria ser um setor puramente administrativo do estado centralizado russo”. Muitas de suas declarações também são vistas como discursos de ódio e meramente reacionárias, inclusive em aspectos morais conservadores, o que lhe rendeu comparações (para alguns descabidas) com Olavo de Carvalho, o guru de Jair Bolsonaro que formulou todo o estapafúrdio e funesto arcabouço ultrarreacionário abraçado pelo clã político brasileiro.

Daria Dugina

Com 30 anos, a filha de Alexander Dugin era uma figura muito conhecida na Rússia, já que era comentarista de política em veículos de mídia de alinhamento pró-Kremlin. Jornalista formada em Filosofia e Ciência Política pela Universidade Estatal de Moscou, a jovem, nascida em 1992, exercia forte ativismo contra a Ucrânia e enaltecia os mecanismos geopolíticos adotados pelo governo Putin.

Ela estaria por trás de uma complexa rede de plataformas online dedicadas a espalhar desinformação e notícias falsas sobre a Ucrânia e as intenções russas no conflito, iniciado em fevereiro deste ano, sendo responsável editorial pelo site United World International, o que lhe rendeu a alcunha de “rainha das fake news” por parte dos inimigos do Kremlin, o que era rebatido pelos seguidores pró-Rússia.