Relatório divulgado pelo Centro de Contenção de Desinformação do governo da Ucrânia nesta segunda-feira (25) colocou Lula (PT) como único brasileiro na lista de personalidades internacionais que propagam informação pró-Rússia sobre a guerra entre os dois países.
Apoiado pela mídia liberal internacional, o ex-humorista Volodymyr Zelensky foi alçado ao poder na Ucrânia em 2019 com o apoio primordial de grupos da ultradireita neonazista, cinco anos após o "Massacre na Casa dos Sindicatos", quando esses grupos simpatizantes do Reich de Adolph Hitler, que estavam em ascensão na Ucrânia após o Euromaidan (levante que derrubou o governo de Viktor Yanukovych, que era pró-Rússia), atearam fogo em um prédio sede de organizações sindicais e do comitê regional do Partido Comunista da Ucrânia. No ataque, 39 pessoas morreram carbonizadas. Entre as vítimas está o jovem militante comunista Vadim Papura, que tinha 17 anos.
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Em entrevista à revista Time em maio deste ano, distorcida por essa mesma mídia neoliberal - em especial no Brasil -, Lula afirmou que Zelensky era tão responsável pela Guerra quanto Vladimir Putin.
"Às vezes, fico vendo o presidente da Ucrânia na televisão como se estivesse festejando, sendo aplaudido em pé por todos os parlamentos, sabe? Esse cara é tão responsável quanto o Putin. Ele é tão responsável quanto o Putin. Porque numa guerra não tem apenas um culpado", afirmou Lula à publicação.
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Esse foi um dos motivos que levaram Zelensky a colocar o brasileiro, que lidera as pesquisas de intenção de votos para a Presidência, no rol de "inimigos" da Ucrânia.
No entanto, Zelensky - que iniciou uma perseguição aos partidos progressistas logo no início da guerra - tem outros motivos para colocar Lula entre os inimigos de seu governo.
Próximo à Organização do Tratado Atlântico Norte (Otan) - verdadeiro motivo da guerra -, o presidente ucraniano teme que, eleito, Lula retome as negociações para fortalecimento dos BRICs, grupo formado pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Durante os governos Lula, o fortalecimento do grupo balançou a geopolítica mundial, sobretudo após a criação do Banco dos Brics, instituição que faria frente ao Banco Mundial e outras estruturas ligadas aos EUA, como a própria Otan.
"Me parece que a Ucrânia pode estar olhando para o futuro e vendo o que um eventual novo governo de Lula pode significar em termos de fortalecimento da Rússia. Acho que eles estão vendo a liderança de Lula nas pesquisas e avaliando quais os impactos disso para a Ucrânia", disse à BBC Larlecianne Piccolli, doutora em estudos estratégicos internacionais e diretora de pesquisa do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (Isape).
Para Mariana Kalil, doutora em Relações Internacionais e professora da Escola Superior de Guerra (ESG) do Ministério da Defesa, Zelensky teme um governo progressista com Lula no Brasil, já que Jair Bolsonaro (PL), mesmo em meio a adulação a Putin, é visto como neutro e simpatizante das mesmas causas ultradireitistas.
"Esse movimento [inclusão do nome de Lula] faz sentido quando sabemos que existe uma inserção de Zelensky dentro da extrema-direita global. Assim, faria sentido o governo mencionar Lula, que é um político de esquerda, e não Bolsonaro", diz.
Além disso, Zelensky tenta adular os EUA diante de um eventual governo Lula, que tende ao multilateralismo nas relações internacionais, em vez da submissão instaurada por Bolsonaro.