O pai do atirador que matou 19 crianças e duas professoras numa escola privada da cidade Uvalde, no Texas, nos EUA, na última terça-feira (23), Salvador Ramos, que tem o mesmo nome do filho, falou pela primeira vez à imprensa sobre a tragédia de proporções colossais provocada pelo jovem de 18 anos.
Em entrevista para o site The Daily Beast, Ramos começou dizendo que sentia muito por toda a dor provocada pelo, com quem não mantinha muito contato nos últimos anos.
“Eu só quero que as pessoas saibam que sinto muito, cara, muito mesmo pelo o que meu filho fez”, disse o homem de 42 anos.
Ramos não vivia com a mãe de seu filho e já tem uma outra relação há muito. Ele contou que o afastamento do filho nos últimos três anos ocorreu por conta de seu novo emprego, fora de Uvalde, assim como pela pandemia. Como a mãe do rapaz sofria de câncer e morava com o então adolescente, Ramos disse que preferiu manter-se totalmente afastado por conta da saúde frágil da ex-companheira. Atualmente ele cava buracos para inspeção ao lado de postes de eletricidade.
O homem, visivelmente abalado, segundo a reportagem do The Daily Beast, disse ainda que o ódio do filho certamente era canalizado a ele e que se os tiros tivessem o acertado, teria sido o correto, e não o massacre cometido contra inocentes.
““Minha mãe me diz que ele provavelmente teria atirado em mim também, porque ele sempre dizia que eu não o amava. Nunca esperei que meu filho fizesse algo assim. Ele deveria ter me matado, você sabe, em vez de fazer algo assim com alguém”, desabafou o pai.
Lamentando não poder mais ver o filho, que foi morto por policiais no momento da invasão da escola, Ramos afirmou ter consciência que os outros pais e mães também não poderão mais ver seus filhos assassinados.
“Eu nunca vou ver meu filho novamente, assim como eles não vão ver seus filhos. E isso me machuca”, lamentou.
O pai procurou ainda dividir a culpa do que aconteceu com a mãe do atirador, que segundo ele não cuidava do rapaz. Ele abandonou a escola no último ano do Ensino Médio, de acordo com Ramos, por ter apenas uma muda de roupa e que os colegas o hostilizavam e tiravam sarro por causa disso. A informação, no entanto, é contestada por outras fontes e pela investigação. Uma amiga afirmou que Salvador Ramos, o filho, vinha apresentando um comportamento cada vez mais violento, que fala muito na internet e em grupos de aplicativos de mensagens sobre ter armas e fazer massacres, e que recentemente andou assediando de forma agressiva várias garotas, o que despertava reações ruins de outros rapazes.
Ramos pai falou ainda sobre a relação ruim que tem também com uma filha mais velha, irmã do atirador, que agora tem 21 anos. Sem vê-la e sem contato nos últimos anos, ele disse que soube por terceiros que ela mudou totalmente de vida e que se alistou nas Forças Armadas.
“Minha filha, eu acho, mudou sua vida, ela foi para a Marinha. Gostaria que meu filho tivesse ido e mudado sua vida”, contou Ramos, lamentando.
No final, mesmo sabendo que suas palavras não seriam bem recebidas pelas pessoas em geral, ele defendeu o filho dos insultos que vêm sendo direcionados por grande parte da população após a ação dantesca cometida.
“Eu não quero que eles o chamem de monstro... Eles não sabem de nada, cara... Eles não sabem de nada que ele estava passando”, concluiu o pai.