Enquanto no Brasil comunicadores defendem a legalidade de partidos nazistas e até mesmo fazem saudações nazi em canal de televisão, a extrema direita dos EUA tem se organizado para banir livros que abordem temas como o holocausto e a escravidão. Um dos argumentos utilizados é que tais assuntos não devem ser abordados no período escolar, pois, "são pesados e repletos de ideologia".
Mais recentemente, os distritos escolares de Virginia e Texas baniram do currículo escolar o livro em formato de graphic novel (quadrinhos) "MAUS", de autoria de Art Spiegelman. A referida obra tem sido proibida em várias regiões do país e isso levantou uma discussão em nível nacional.
A polêmica, que está nos canais da TV aberta dos Estados Unidos, não se dá à toa, pois, "MAUS" é considerado uma das obras mais importantes no mundo a abordar os horrores do nazismo. Além disso, é a única em formato graphic novel a receber o Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes do mundo.
No livro, o Art Spiegelman, a partir das memórias de seu pai, faz um relato da perseguição contra judeus e poloneses. Em formato de quadrinhos, o autor usou animais para representar cada tipo social: os judeus são ratos, os alemães gatos, os poloneses como porcos e os americanos como cães. Lançado entre 1988 e 1991, a obra se tornou um fenômeno editorial em quase todo o mundo.
"Conteúdo obsceno"
Uma reportagem da ABC News relata uma reunião de pais e mestres no distrito escolar do Tennessee onde foi decidido por unanimidade que "MAUS" seria banido do currículo escolar. Um dos argumentos utilizados é que se trata uma obra "obscena".
"Estar na escola, educar e outras atividades não precisam promover essas coisas. [O livro MAUS] mostra pessoas penduradas, mostra crianças sendo assassinadas, por que o sistema educacional deve promover esse tipo de coisa? Não é sábio e nem saudável", declarou Tony Allman, membro do Conselho Escolar do Condado de McMinn.
Com a perseguição promovida pela extrema direita à obra de Art Spiegelman, o livro "MAUS" voltou a ser um dos mais vendidos da Amazon dos EUA. Expulso das escolas, o livro voltou a circular na sociedade.
Eleitores do amanhã contra a censura
Com o avanço da proibição de "MAUS" e de outras obras das escolas dos EUA, estudantes tem se organizados em torno de um grupo que eles deram o nome de "Eleitores do Amanhã".
A primeira ação política do Eleitores do Amanhã tem sido a de distribuir gratuitamente cópias dos livros "MAUS", e "Amada", de Toni Morrison (também vencedora do Pulitzer e que aborda os horrores da escravidão nos EUA) nas ruas dos Texas e de Virgínia.
"Os eleitores do Amanhã estão lutando contra as tentativas da extrema-direita de eliminar obras essenciais da história e da literatura de nossos currículos escolares", disse Jack Lobel, porta-voz dos Eleitores do Amanhã à ABC News.
Para o grupo, o banimento de "MAUS" e "Amado" faz parte de uma estratégia política para que não se discuta os legados da escravidão e do fascismo que, de acordo com o grupo, segue vivos na sociedade estadunidense.
"Há pessoas que preferem não ter essas conversas em torno esses livros porque abordam legados de racismo e fascismo que ainda estão vivos. Para termos uma sociedade verdadeiramente democrática, precisamos ter conversas em torno de livros como esses", disse Maya MaCkey, líder do Eleitores do Amanhã.
Queer Museu e a censura no Brasil
A perseguição da extrema direita dos EUA contra os livros “MAUS” e “Amada” nos remetem às ações políticas do MBL e do Escola Sem Partido, que promoveram campanhas que resultaram na censura da exposição Queer Museu, em Porto Alegre.
Além disso, o ensino sobre a história de África ainda encontra inúmeras resistências, pois, grupos religiosos alegam questões de fé para impedir o ensino da cultura africana na rede pública de ensino.
Tanto nos EUA como no Brasil, a extrema direita e grupos fundamentalistas querem banir qualquer discussão que versem sobre as diferenças sociais e fatos históricos traumáticos como a escravidão, o nazismo e o fascismo. O objetivo dessa estratégia política articulada internacionalmente é impor uma visão única de sociedade e fazer de conta que tais tragédias não ocorreram.
Com informações da ABC News